Quinto
filme da franquia estrelado por Daniel Craig, Sem Tempo Para Morrer tem a difícil
tarefa de concluir um ciclo para o ator dentro da saga. Mais do que
simplesmente o último longa de Craig no papel, a produção representa o término
de uma fase que atravessa três décadas e já privilegiou os fãs com ótimos títulos,
como Cassino Royale e Skyfall. Posto isto, é inevitável que as expectativas
estivessem lá em cima, porém, a decepção não poderia ser maior.
Em
primeiro lugar, o novo 007 tem todas os traços das películas anteriores. Carros
luxuosos, mulheres sedutoras e uma trilha rebuscada (desta vez com destaque
para No Time to Die, de Billie Eilish) são alguns dos elementos característicos
da franquia que, aqui, repercutem novamente. Entretanto, mesmo que a fórmula
usada replique os termos que foram bem-sucedidos no passado, a obra peca na
concepção de itens básicos. Logo, o problema do filme não está relacionado à falta
de ineditismo, mas sim vinculado à incapacidade de lidar com o substancial para
trabalhar tópicos que antes cativavam o público.
Um dos
principais expoentes, nesse quesito, é o vilão Safin. Dito isso, ainda que o
longa se dedique a construir um prólogo a fim de desenvolver o
personagem e o seu relacionamento com Madeleine, que é importante para o arco
do antagonista, as motivações deste para salvar a garota jamais se revelam. A
ausência de fatores elucidativos compromete o engajamento do espectador no
respectivo plot, o que é acentuado pela confecção de seu plano maléfico que, de
similar modo, jamais é totalmente explícito aos assistentes. Isso não seria ruim
se a produção tivesse fornecido suficiente respaldo para o público divagar a
respeito, porém, com base no que é exposto, o espectador só consegue imaginar
que Safin está fazendo tudo aquilo por conta de uma mera justificativa
diabólica; é pigérrimo e superficial. Vale frisar que a escalação de Rami Malek
para incorporar o papel é um completo desperdício, pois, mesmo que ator se
esforce para imprimir algum tipo de ameaça, o pouco tempo de tela que ele
possui é determinado por falas filauciosas que buscam “discutir” sobre a
natureza humana, e uma maquiagem que tenta visualmente causar a intimidação que
o texto não consegue.
Outrossim,
algumas das outras adições ao elenco também são problemáticas. O cientista
Obruchev exerce a função de espairecer a trama e, apesar de funcionar na maioria
das vezes devido aos personagens também carecerem de informações, este subestima
a capacidade dos assistentes quando passa a verbalizar pontos já esclarecidos
pelo entrecho. Por sua vez, a nova 007 existe somente para o roteiro efetuar
uma disputa impertinente entre ela e Bond, enquanto Ash é inoculado apenas para
o script engendrar uma reviravolta insossa. (SPOILERS A SEGUIR) Outro acréscimo
questionável é a filha do protagonista, porque a sua inserção tem como único
intuito servir de apelo emocional para James e Madeleine agirem conforme as convenientes
instruções do texto. (FIM DOS SPOILERS) Em contraparte, Paloma, vivida por Ana
de Armas, é um frescor mais do que bem-vindo ao dar vida a uma
mistura doce de inocência, carisma e letalidade.
No que
tange às cenas de ação, estas são majoritariamente inteligíveis. Isto é, a obra
permite que os segmentos fluam sem a interferência de muitos cortes ou uma câmera
trêmula, demonstrando eficiência especialmente nos trechos em que há apenas um
combatente contra o outro. Dessa maneira, quando mais semblantes passam a
integrar a contenda, a compreensão do que acontece diminui em função da utilização
de vários ângulos e uma câmera que começa a se movimentar mais do que o ideal,
contudo, nada que atrapalhe a experiência em sua plenitude. Sobretudo, os
personagens são geograficamente bem situados e a coreografia dos atores apresenta
equilíbrio e bastante treinamento. Convém salientar que tais blocos são
responsáveis por sustentar o ritmo do enredo, embora o filme tenha quase 160
minutos e o terceiro ato seja inflado pelas questões envolvendo Safin, mesmo
que não tenham resolução.
Em
resumo, 007: Sem Tempo Para Morrer é a despedida insípida de Daniel Craig do
papel.
Matheus J. S.
Assista e
Kontamine-se
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Ficha
Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 30 de setembro de
2021
Direção: Cary Joji Fukunaga
Elenco: Daniel Craig, Léa Seydoux, Rami Malek…
Gênero: Ação
Nacionalidade: EUA e Reino Unido
Sinopse
(Filmow):
Depois de sair do serviço
ativo da MI6, James Bond vive tranquilamente na Jamaica, mas como tudo dura
pouco, a vida do espião 007 é agitada mais uma vez.
Avaliação:
IMDb: 7,4
Rotten: 83%
Metacritic: 68%
Filmow (média geral):
3,6
Adoro Cinema
(usuários/adorocinema): 4,1/3,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 3,5
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