28 de janeiro de 2022

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Titane

Pôster

Lançado em 2016 cercado por polêmicas, Raw é o filme de estreia da diretora francesa Julia Ducournau que, segundo dizem, fez as pessoas desmaiarem nas salas de cinema. Cinco anos depois e mais controverso ainda, chegou às telonas Titane, nova obra da cineasta que conquistou a Palma de Ouro em Cannes e estreia hoje na plataforma de streming da Mubi.
Em primeiro lugar, Titane é um longa para ser degustado. Mais importante do que entender ou não, a experiência proposta pelo enredo desperta uma cosmologia de emoções que abrange raiva, nojo, curiosidade, aflição e, acima de tudo, estranhamento. A escolha por uma narrativa abstrata, nesse sentido, é justificada por meio da finalidade de criar uma estória que, como a própria Ducournau afirmou, fala sobre amor, mas tem como intuito final tocar cada espectador de uma forma íntima e pessoal. Alguns recursos usados pela diretora reiteram a proposta supracitada, como a fotografia pontuada pelo amarelo, rosa e vermelho que engendra uma atmosfera surrealista, e a ênfase em objetos simbólicos que apresentam significados distintos para cada assistente.
Embora a trama propicie inúmeras interpretações, esta não carece de uma diretriz para orientar o público. Dito isso, desde o princípio é apregoado a personalidade estrambólica de Alexia e o seu vínculo com automóveis, dois elementos fundamentais para se ter um ponto de partida acerca do qual divagar. Dessa maneira, as cenas heteróclitas da produção são orquestradas com o fito de tirar o espectador de sua zona de conforto e fazê-lo refletir a respeito das excentricidades que as compõem. O emaranhado de questões oriundo de tais sequências permite que os assistentes tracem divergentes linhas de raciocínio, contudo, todas sob o beneplácito do roteiro, ensejando, em decorrência, pautas que discutem temas como solidão, sexualidade, identidade de gênero, fetichismo, maternidade, paternidade, traumas, aceitação e rejeição.
Sobretudo, Titane é uma película intensa. O plano-sequência ao início do filme é uma característica que reitera a asserção, visto que os assistentes são imbuídos no entrecho por intermédio de um único take que segue a protagonista e estabelece uma relação de proximidade com o público. Esse laço é acentuado ao correr da produção por conta de a narrativa progredir majoritariamente sob a perspectiva de Alexia, possibilitando que o espectador a veja durante os momentos mais insólitos e acompanhe o seu desenvolvimento enquanto passa a simpatizar com a personagem independente das atrocidades cometidas anteriormente. O estranho relacionamento que a figura em questão possui com o próprio corpo também não é omitido, sendo esta vertente o gérmen de trechos angustiantes que, quando não explícitos, causam incômodo em função do uso agudo do som e as feições manifestadas pela atriz. Logo, mesmo sem ver com clareza, o assistente sabe o que está ocorrendo e pode imaginar o quão excruciante a situação é.
Outrossim, a maquiagem e a utilização de efeitos práticos se encarregam de tornar as transformações físicas pelas quais Alexia passa ainda mais inquietantes; há, simultaneamente, um elevado grau de realismo fruto do excelente trabalho técnico que contrasta com o absurdo da circunstância vigente. Por sua vez, a inserção de Vincent é essencial para que o script amplie as discussões referentes ao elo com o próprio corpo e origine segmentos tão desconfortáveis quanto. Vale frisar que a performance de Vincent Lindon para viver o papel carrega toda a austeridade que o personagem precisa, porém, sem perder o misto de sentimentos que se acobertam sob camadas rústicas. De similar modo, Agathe Rousselle dá vida a uma jovem que se esconde através de demonstrações de raiva e desconfiança; é uma atuação bastante inflamada, mas que se equilibra com sutis momentos de prazer e afeto.
Todavia, a obra não é perfeita. Posto isto, algumas transições de uma cena à outra acontecem de forma abrupta, especialmente no que concerne a breve passagem em que Justine e Alexia se relacionam. Ademais, alguns semblantes são inoculados de maneira problemática, como é o caso da mãe do Adrien que aparece somente para efetuar uma fala expositiva, e o Rayane, que acaba caindo no clichê do coadjuvante que inveja a protagonista.
Apesar dos defeitos frisados, Titane continua sendo um longa ímpar que coloca novamente Julia Ducournau nos holofotes da indústria.
Matheus J. S.
 
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Mubi): 28 de janeiro de 2022
Direção: Julia Ducournau
Elenco: Vincent Lindon, Agathe Rousselle, Garance Marillier…
Gênero: Suspense
Nacionalidade: França

Sinopse:
Um violento acidente de carro faz com que uma criança tenha que carregar uma placa de titânio na cabeça.

Avaliação:
IMDb: 6,7
Rotten: 88%
Metacritic: 75%
Filmow (média geral): 3,5
Adoro Cinema (adorocinema): 4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
Avaliação

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