14 de janeiro de 2022

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Mass

Pôster

Em 2011 chegava aos cinemas Deus da Carnificina, filme do diretor Roman Polanski que se propõe a explorar os atritos entre dois casais para sanar um conflito envolvendo os filhos. A utilização de um único espaço para o progresso do enredo e o elenco composto por apenas quatro atores são algumas das caraterísticas que marcam a obra. Dez anos depois, estreia Mass, película que se assemelha muito à produção do cineasta polonês e que consegue despertar tantas discussões quanto.
Em primeiro lugar, o longa tem um início intrigante ao abordar alguns personagens conversando e se preparando para uma ocasião sobre a qual o público não sabe muito a respeito. Nesse ponto, o espectador que não leu a sinopse e não viu o trailer irá demonstrar maior curiosidade frente aos acontecimentos que se seguirão do que alguém mais bem informado, influenciando, em decorrência, a experiência de cada um com a obra. É também durante os minutos incipientes que o entrecho atribui destaque à uma personagem posteriormente descartada, tornando os seus blocos prescindíveis.
Quando o quarteto principal finalmente se reúne, o filme deslancha. O diretor, Fran Kranz, consegue driblar o tom teatral do texto com múltiplos cortes e diferentes enquadramentos que propiciam um dinamismo narrativo difícil de instituir mediante as limitações cenográficas da produção. Nesse sentido, os poucos objetos que compõem o palco da película são usados para complementar os eventos em tela, isto é, o roteiro usufrui de tudo o que está em frente às câmeras. Dito isso, a direção se faz novamente presente ao intensificar a quantidade de cortes e se aproximar mais das figuras em cena ao passo que as emoções se inflamam, assim como o formato da tela é progressivamente comprimido à medida que a tensão aumenta.
Posto isto, Mass é um longa catártico. A interação entre os casais se articula quase como uma terapia pós-traumática, onde os sentimentos vão se aflorando e servem como meio para os indivíduos se conhecerem melhor e estabelecerem uma conexão mais profunda com o seu próprio eu. É, sobretudo, uma jornada de refrigério da alma sobre a qual os personagens são obrigados a lidar com perguntas sem respostas e aceitar que o passado não pode ser alterado; não há julgamentos, e o drama de todos os envolvidos repercute o mesmo grau de impacto. Desse modo, o script é assaz habilidoso ao trabalhar as emoções de quatro pessoas distintas em uma mesma sala sem precisar isolar cada um deles, ensejando confrontos, por conseguinte, a partir de reações conflitantes para sintetizar uma resignação mútua.
Outrossim, a construção dialógica é nevrálgica para o desenrolar da trama. Em função disso, trabalhar com um texto que depende exclusivamente de falas dos personagens para o assistente obter informações não é uma das tarefas mais simples, porém, o roteiro é bem-sucedido ao contextualizar o público por meio da reafirmação de dados que os próprios protagonistas necessitam ter – ao menos, na maior parte do tempo. Dessa maneira, há alguns tópicos que são praticamente enunciados aos espectadores, ou seja, é perspícuo que os atores estão apenas proferindo palavras que foram escritas por outra pessoa; não há autenticidade. Ademais, vale ressaltar que alguns assuntos da conversa se repetem sem o acréscimo de uma discussão relevante, o que termina por inflar os blocos que estes integram. O mesmo pode ser dito no que tange ao desfecho, visto que o filme perde duas vezes a oportunidade de realizar o corte final e se prolonga mais que o devido.
Por sua vez, as atuações completam os itens positivos até então realçados. Martha Plimpton interpreta a pessoa mais instável do grupo e que demonstra maior desconforto com a situação que a cerca; a voz e os trejeitos dela são os principais adereços de sua personalidade. Seu marido, vivido por Jason Isaacs, é um homem que está sempre prestes a explodir, embora ele seja o integrante que mais se reprime, o que confere imprevisibilidade ao seu comportamento. Ann Dowd, no que lhe concerne, é bastante dócil e empática, enquanto seu esposo, incorporado por Reed Birney, é uma incógnita que se decifra gradualmente ao longo da urdidura. Em resumo, são todas performances que expressam sentimentos plangentes e carregam uma dor aguda.
Em suma, Mass se estende mais do que o necessário e nem sempre é tão sutil durante os momentos de exposição. No entanto, o magnetismo do elenco somado à capacidade de Fran Kranz lidar com um ambiente minimalista para desenvolver a dinâmica entre seus personagens atribui notoriedade ao longa.
Matheus J. S.
 
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (mundial): 30 de janeiro de 2021
Direção: Fran Kranz
Elenco: Martha Plimpton, Jason Isaacs, Ann Dowd, Reed Birney…
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA

Sinopse (Filmow):
A vida de dois casais é afetada de maneiras diferentes, após uma violenta tragédia.

Avaliação:
IMDb: 7,7
Rotten: 95%
Metacritic: 81%
Filmow (média geral): 4,1
Kontaminantes (Matheus J. S.): 8,5
Avaliação


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