Em 2011 chegava aos
cinemas Deus da Carnificina, filme do diretor Roman Polanski que se propõe a
explorar os atritos entre dois casais para sanar um conflito envolvendo os
filhos. A utilização de um único espaço para o progresso do enredo e o elenco
composto por apenas quatro atores são algumas das caraterísticas que marcam a
obra. Dez anos depois, estreia Mass, película que se assemelha muito à produção
do cineasta polonês e que consegue despertar tantas discussões quanto.
Em primeiro lugar, o
longa tem um início intrigante ao abordar alguns personagens conversando e se
preparando para uma ocasião sobre a qual o público não sabe muito a respeito.
Nesse ponto, o espectador que não leu a sinopse e não viu o trailer irá
demonstrar maior curiosidade frente aos acontecimentos que se seguirão do que
alguém mais bem informado, influenciando, em decorrência, a experiência de cada
um com a obra. É também durante os minutos incipientes que o entrecho atribui
destaque à uma personagem posteriormente descartada, tornando os seus blocos prescindíveis.
Quando o quarteto principal
finalmente se reúne, o filme deslancha. O diretor, Fran Kranz, consegue driblar
o tom teatral do texto com múltiplos cortes e diferentes enquadramentos que
propiciam um dinamismo narrativo difícil de instituir mediante as limitações
cenográficas da produção. Nesse sentido, os poucos objetos que compõem o palco da
película são usados para complementar os eventos em tela, isto é, o roteiro usufrui
de tudo o que está em frente às câmeras. Dito isso, a direção se faz novamente
presente ao intensificar a quantidade de cortes e se aproximar mais das figuras
em cena ao passo que as emoções se inflamam, assim como o formato da tela é
progressivamente comprimido à medida que a tensão aumenta.
Posto isto, Mass é
um longa catártico. A interação entre os casais se articula quase como uma
terapia pós-traumática, onde os sentimentos vão se aflorando e servem como meio
para os indivíduos se conhecerem melhor e estabelecerem uma conexão mais
profunda com o seu próprio eu. É, sobretudo, uma jornada de refrigério da alma
sobre a qual os personagens são obrigados a lidar com perguntas sem respostas e
aceitar que o passado não pode ser alterado; não há julgamentos, e o drama de
todos os envolvidos repercute o mesmo grau de impacto. Desse modo, o script
é assaz habilidoso ao trabalhar as emoções de quatro pessoas distintas em uma
mesma sala sem precisar isolar cada um deles, ensejando confrontos, por
conseguinte, a partir de reações conflitantes para sintetizar uma resignação
mútua.
Outrossim, a
construção dialógica é nevrálgica para o desenrolar da trama. Em função disso, trabalhar
com um texto que depende exclusivamente de falas dos personagens para o assistente
obter informações não é uma das tarefas mais simples, porém, o roteiro é bem-sucedido
ao contextualizar o público por meio da reafirmação de dados que os próprios protagonistas
necessitam ter – ao menos, na maior parte do tempo. Dessa maneira, há alguns tópicos
que são praticamente enunciados aos espectadores, ou seja, é perspícuo que os
atores estão apenas proferindo palavras que foram escritas por outra pessoa;
não há autenticidade. Ademais, vale ressaltar que alguns assuntos da conversa
se repetem sem o acréscimo de uma discussão relevante, o que termina por inflar
os blocos que estes integram. O mesmo pode ser dito no que tange ao desfecho,
visto que o filme perde duas vezes a oportunidade de realizar o corte final e
se prolonga mais que o devido.
Por sua vez, as
atuações completam os itens positivos até então realçados. Martha Plimpton
interpreta a pessoa mais instável do grupo e que demonstra maior desconforto
com a situação que a cerca; a voz e os trejeitos dela são os principais
adereços de sua personalidade. Seu marido, vivido por Jason Isaacs, é um homem
que está sempre prestes a explodir, embora ele seja o integrante que mais se
reprime, o que confere imprevisibilidade ao seu comportamento. Ann Dowd, no que
lhe concerne, é bastante dócil e empática, enquanto seu esposo, incorporado por
Reed Birney, é uma incógnita que se decifra gradualmente ao longo da urdidura.
Em resumo, são todas performances que expressam sentimentos plangentes e
carregam uma dor aguda.
Em suma, Mass se
estende mais do que o necessário e nem sempre é tão sutil durante os momentos de
exposição. No entanto, o magnetismo do elenco somado à capacidade de Fran Kranz
lidar com um ambiente minimalista para desenvolver a dinâmica entre seus personagens
atribui notoriedade ao longa.
Matheus J. S.
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Ficha
Técnica:
Data de
lançamento (mundial): 30 de janeiro de 2021
Direção: Fran
Kranz
Elenco: Martha Plimpton, Jason Isaacs, Ann Dowd, Reed Birney…
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Filmow):
A vida de dois casais é afetada de maneiras
diferentes, após uma violenta tragédia.
Avaliação:
IMDb: 7,7
Rotten: 95%
Metacritic: 81%
Filmow (média geral): 4,1
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 8,5
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