11 de janeiro de 2022

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Benedetta

Pôster

Após estarrecer o mundo em 2016 ao explorar a complexa relação de uma mulher violentada e o seu estuprador em Elle, Paul Verhoeven retorna aos holofotes da polêmica com Benedetta. Não satisfeito com a repercussão gerada anos atrás, o diretor busca se superar apostando em uma narrativa sórdida na qual duas freiras se relacionam usando um objeto sagrado como meio de prazer.
Primordialmente, cabe salientar que as cenas chocantes do filme são um de seus menores problemas. Nesse sentido, a narrativa tem um início corrido sucedido por sequências que se atropelam progressivamente e não permitem que o espectador digira os eventos em tela; é como se Verhoeven estivesse se apressando para poder chegar finalmente aos seus segmentos controversos. Posto isto, há uma série de situações que geram um impacto momentâneo, mas não se conectam entre si e não repercutem posteriormente, visto que a reação dos personagens a estes é simplesmente ignorada ou tolhida.
No que diz respeito às visões que a protagonista tem, o enredo as articula com o propósito de representar os conflitos inerentes ao seu âmago. Entretanto, os respectivos trechos não obtêm êxito devido à inexistência de dilemas por parte desta, visto que desde os minutos incipientes é apregoado as predileções de sua personalidade e em nenhum momento a personagem esboça sentimentos verdadeiramente adversos aos encontros com Bartolomea. Por outro lado, o roteiro é mais bem trabalhado ao escrutinar as motivações de Benedetta no âmbito político da trama. Em outras palavras, a película enseja argumentos para quem defenda a idoneidade da freira e a veracidade dos milagres, assim como para quem a acuse de ser uma grande farsa.
Dito isso, o filme consegue estender esse caráter dúbio a uma de suas coadjuvantes: Felicita. A personagem, que começa praticamente como uma antagonista, tem suas camadas destrinchadas ao correr do entrecho e pode ser interpretada sob distintas óticas, tanto positivas quanto negativas. Logo, a performance de Charlotte Rampling é fundamental para a transparência da complexidade de sua persona. Ou seja, é uma atuação marcada pela transição da pura austeridade a emoções que afloram sutilmente com o desenrolar do longa, passando por ódio, luto, rancor e plenitude.
Diferentemente da figura supracitada, Christina é um dos semblantes periféricos mais inconvenientes de toda a obra. Além desta ser o estereótipo da menina invejosa que existe apenas para importunar a protagonista, o ceticismo que ela apresenta já havia sido mais bem arquitetado por meio do plot de Felicita, sendo este outro fator que nulifica o seu arco e expõe o quão patética a personagem é.
Concernente às famigeradas cenas de sexo, Verhoeven baliza o seu principal ataque à Igreja Católica. Estas, que deveriam ser catárticas e representar um ponto de inflexão no texto, perdem o efeito ao descambarem para o deboche fazendo uso de uma estátua santa com o único intuito de ofender. Por outro lado, a estrela de tais blocos, Virginie Efira, os interpreta com assaz comodismo, transmitindo com genuinidade toda a lascívia de sua persona. Atinente às suas demais participações, a atriz se doa integralmente à dualidade do papel, convencendo tanto como uma doce jovem, quanto como uma intrépida e perspicaz mulher. Vale ressaltar que sua companheira de tela, Daphne Patakia, contrasta com ela ao viver uma personagem muito mais inocente e impulsiva.
Em resumo, Benedetta é uma obra filauciosa e bagunçada que não se salva nem mesmo por suas poderosas performances.
Matheus J. S.
 
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 13 de janeiro de 2022
Direção: Paul Verhoeven
Elenco: Virginie Efira, Charlotte Rampling, Daphne Patakia…
Gênero: Drama
Nacionalidade: França e Holanda

Sinopse (Filmow):
No século XVII, uma freira italiana faz parte de um convento na Toscana desde quando era criança. Ela sofre de um distúrbio e tem perturbações e visões religiosas e eróticas. Assistida por uma companheira, a relação entre as duas acaba se tornando um romance amoroso.

Avaliação:
IMDb: 6,7
Rotten: 85%
Metacritic: 73%
Filmow (média geral): 3,6
Kontaminantes (Matheus J. S.): 3
Avaliação


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