Após estarrecer o mundo em 2016 ao explorar a complexa relação de uma
mulher violentada e o seu estuprador em Elle, Paul Verhoeven retorna aos
holofotes da polêmica com Benedetta. Não satisfeito com a repercussão gerada
anos atrás, o diretor busca se superar apostando em uma narrativa sórdida na
qual duas freiras se relacionam usando um objeto sagrado como meio de prazer.
Primordialmente, cabe salientar que as cenas chocantes do filme são um
de seus menores problemas. Nesse sentido, a narrativa tem um início corrido
sucedido por sequências que se atropelam progressivamente e não permitem que o
espectador digira os eventos em tela; é como se Verhoeven estivesse se
apressando para poder chegar finalmente aos seus segmentos controversos. Posto
isto, há uma série de situações que geram um impacto momentâneo, mas não se
conectam entre si e não repercutem posteriormente, visto que a reação dos
personagens a estes é simplesmente ignorada ou tolhida.
No que diz respeito às visões que a protagonista tem, o enredo as
articula com o propósito de representar os conflitos inerentes ao seu âmago.
Entretanto, os respectivos trechos não obtêm êxito devido à inexistência de
dilemas por parte desta, visto que desde os minutos incipientes é apregoado as
predileções de sua personalidade e em nenhum momento a personagem esboça
sentimentos verdadeiramente adversos aos encontros com Bartolomea. Por outro
lado, o roteiro é mais bem trabalhado ao escrutinar as motivações de Benedetta
no âmbito político da trama. Em outras palavras, a película enseja argumentos
para quem defenda a idoneidade da freira e a veracidade dos milagres, assim
como para quem a acuse de ser uma grande farsa.
Dito isso, o filme consegue estender esse caráter dúbio a uma de suas
coadjuvantes: Felicita. A personagem, que começa praticamente como uma
antagonista, tem suas camadas destrinchadas ao correr do entrecho e pode ser
interpretada sob distintas óticas, tanto positivas quanto negativas. Logo, a
performance de Charlotte Rampling é fundamental para a transparência da
complexidade de sua persona. Ou seja, é uma atuação marcada pela transição da
pura austeridade a emoções que afloram sutilmente com o desenrolar do longa,
passando por ódio, luto, rancor e plenitude.
Diferentemente da figura supracitada, Christina é um dos semblantes
periféricos mais inconvenientes de toda a obra. Além desta ser o estereótipo da menina invejosa que existe apenas para importunar a protagonista, o
ceticismo que ela apresenta já havia sido mais bem arquitetado por meio do plot
de Felicita, sendo este outro fator que nulifica o seu arco e expõe o quão patética
a personagem é.
Concernente às famigeradas cenas de sexo, Verhoeven baliza o seu
principal ataque à Igreja Católica. Estas, que deveriam ser catárticas e
representar um ponto de inflexão no texto, perdem o efeito ao descambarem para
o deboche fazendo uso de uma estátua santa com o único intuito de ofender. Por
outro lado, a estrela de tais blocos, Virginie Efira, os interpreta com assaz
comodismo, transmitindo com genuinidade toda a lascívia de sua persona.
Atinente às suas demais participações, a atriz se doa integralmente à dualidade
do papel, convencendo tanto como uma doce jovem, quanto como uma intrépida e
perspicaz mulher. Vale ressaltar que sua companheira de tela, Daphne Patakia,
contrasta com ela ao viver uma personagem muito mais inocente e impulsiva.
Em resumo, Benedetta é uma obra filauciosa e bagunçada que não se salva
nem mesmo por suas poderosas performances.
Matheus J. S.
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 13 de janeiro de 2022
Direção: Paul Verhoeven
Elenco: Virginie Efira, Charlotte Rampling, Daphne Patakia…
Gênero: Drama
Nacionalidade: França e Holanda
Sinopse (Filmow):
No século XVII, uma freira
italiana faz parte de um convento na Toscana desde quando era criança. Ela
sofre de um distúrbio e tem perturbações e visões religiosas e eróticas.
Assistida por uma companheira, a relação entre as duas acaba se tornando um
romance amoroso.
Avaliação:
IMDb: 6,7
Rotten: 85%
Metacritic: 73%
Filmow (média geral): 3,6
Kontaminantes (Matheus J. S.): 3
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