Considerado um dos diretores mais singulares de Hollywood, Wes Anderson é
uma das poucas mentes autenticamente criativas da indústria cinematográfica.
Responsável por um estilo insólito que é reconhecido a quilômetros de distância
por qualquer cinéfilo de carteirinha, o cineasta chega em 2021 com sua mais
nova obra: A Crônica Francesa.
Em face do exposto, todos os traços que assinam as produções do diretor
estão presentes em seu mais recente trabalho. O apreço por enquadramentos
simetricamente perfeitos, centralização dos personagens, câmera imóvel, tracking
shots, fotografia 4:3 e a utilização de cores extravagantes são só alguns
dos elementos que marcam o filme. Somados à quebra da quarta parede, uso do voice
over, estética de animação, divisão da tela com várias cenas concomitantes
e o "congelamento" dos atores a fim de emular uma sequência estática
mesmo que os intérpretes estejam visivelmente se movendo, tais características
dão vida a um universo visualmente autoral. Essas particularidades criam uma
estória aprazível de se acompanhar que estimula o público a querer saber o que
o cineasta irá apresentar de inusitado a seguir.
No entanto, Wes esporadicamente é autoindulgente ao permitir que as suas
divagações estéticas alcancem um patamar onde a inserção destas acontece
simplesmente por capricho. O principal exemplo diz respeito a constante transição
do preto e branco para o colorido, o que é feito de forma avulsa, repentina e
despropositada, além do recurso perder o seu valor artístico quando passa a
afetar outras esferas do longa - como a paleta de cores saturada - e se torna
incômodo aos olhos do espectador. De similar modo, as intromissões efetuadas
pelo discurso da personagem da Tilda Swinton são invasivas e quebram o clima
imposto, assim como a introdução de minis estórias dentro dos blocos principais
faz.
Outrossim, o fato de os contos narrados não possuírem o grau entusiástico
nivelado compromete a experiência como um todo. Nesse sentido, devido à primeira
estória ser a mais engajante, o restante da película não consegue superar ou
sequer se equiparar ao que foi apresentado anteriormente, fazendo com que os
assistentes jamais tenham as expectativas correspondidas pelo próprio filme que
as semeou. Convém ressaltar que, apesar do elenco soberbo, o roteiro em momento
algum fornece texto suficiente para que os atores se destaquem, sendo que a
simpatia que o público possa vir a sentir por algum dos semblantes é fruto de
uma afeição que este já possuía mesmo antes da produção ter início. Isso provém,
sobretudo, do péssimo timing cômico e da falta de carisma dos
personagens, considerando que os poucos rostos cativantes estão apenas na
primeira estória.
No mais, A Crônica Francesa é uma obra com bastante estilo e até certo
ponto gostosa de se assistir, entretanto a inconsistência rítmica e a
autocondescendência de seu criador propiciam um resultado de caráter marcescível.
Matheus J. S.
Assista e
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 16 de novembro de
2021
Direção: Wes Anderson
Elenco: Timothée Chalamet, Léa Seydoux, Bill
Murray...
Gênero: Comédia
Nacionalidade: EUA e Alemanha
Sinopse
(Filmow):
Na França pós-Segunda
Guerra Mundial, um jornal americano dá vida a uma coleção de histórias
publicadas na revista "The French Dispatch".
Avaliação:
IMDb: 7,2
Rotten: 75%
Metacritic: 74%
Filmow (média geral):
3,6
Adoro Cinema
(usuários): 3,3
Kontaminantes (Matheus J. S.): 5
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