Nove anos após o lançamento de seu último trabalho
audiovisual, Leos Carax retorna aos holofotes da indústria cinematográfica com
Annette. Ao lado de Tick, Tick... Boom! e Amor, Sublime Amor, o filme é mais um
dos musicais que vem se destacando no ano e chega com força para a temporada de
premiações.
Em primeira análise, os minutos incipientes de
Annette são marcados por um fabuloso plano-sequência que desde o princípio atesta
a presença ativa de seu diretor sobre a produção. Em outras palavras, o
respectivo trecho realiza um passeio pelas ruas em que os personagens caminham
enquanto novos semblantes são incluídos organicamente à performance. A
coreografia dos atores é fascinante, e a capacidade que o cineasta apresenta ao
filmar tudo sob uma única tomada evidencia o quão caprichoso o cineasta busca
ser. A assinatura de Leos Carax também pode ser encontrada em outros aspectos
singulares que o longa utiliza, tais como o uso de ângulos distorcidos e a
sobreposição de imagens com o intuito de evocar uma estética autoral.
Outrossim, um dos principais elementos do enredo é o
flerte com o absurdo. Essa predileção do roteiro se manifesta por meio da
fotografia que atribui ênfase à cor verde e, sobretudo, por meio da construção
de cenas surreais. Ou seja, a película se apropria da exoticidade de seus
segmentos para desconstruir os moldes de um musical clássico e narrar de forma
criativa a jornada de decadência de um artista famoso. Nesse sentido, ainda que
muitas sequências não sejam tão satisfatórias de se acompanhar, o público se
mantém atento à tela com o objetivo de tentar desvendar o que está nas
entrelinhas de cada cena. Todavia, a inconsistência dos números musicais e a
extensa duração da obra engendram um terceiro ato arrastado onde se torna
progressivamente difícil manter o espectador envolvido.
Como qualquer musical, Annette está repleto de
canções. No entanto, diferente de outros filmes do gênero, o longa praticamente
não possui diálogos, o que faz com que a existência deles, quando utilizados,
realmente possua relevância dentro da trama. Convém salientar que Adam Driver e
Marion Cotillard concebem apresentações individuais com muita energia nos
palcos, porém a ausência de um sólido suporte por parte do script enseja uma
gritante falta de sintonia entre os atores; o assistente jamais compra a ideia
de que eles são um casal apaixonado, e essa característica é fundamental para
que o primeiro ato funcione. Ademais, a melhor atuação do elenco fica a cargo
da atriz mirim Devyn McDowell que, mesmo com poucos minutos de tela, encanta a
todos com sua belíssima voz e desenvoltura.
Por fim, Annette é uma produção ímpar que embasbaca
a todo instante o seu público. Entretanto, a narrativa inconstante e o deslize
em pontos cruciais do entrecho fomentam uma experiência morna com pouca
influência mnemônica.
Matheus J. S.
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Ficha
Técnica:
Data de
lançamento (Brasil): 30 de dezembro de 2021
Direção: Leos
Carax
Elenco: Adam
Driver, Marion Cotillard, Simon Helberg...
Gênero: Comédia
Nacionalidade: França,
EUA, México, Suiça, Bélgica, Alemanha e Japão
Sinopse (Filmow):
Um casal aparentemente perfeito — um provocante comediante de stand-up
e uma cantora de ópera de renome internacional — vivem vidas glamurosas na
contemporânea Los Angeles. No entanto, com o nascimento de sua filha Annette,
seus misteriosos dons mudarão suas vidas para sempre.
Avaliação:
IMDb: 6,4
Rotten: 71%
Metacritic: 67%
Filmow (média geral): 3,5
Adoro Cinema (usuários): 2,8
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 5
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