Produções fora do circuito de Hollywood geralmente não possuem a atenção
que merecem, e quando são devidamente reconhecidas, é pela pequena parcela cinéfila
do público. Posto isto, é uma pena que O Homem Ideal não corresponda às
expectativas que o seu destaque nas nomeações a prêmios de início de ano tenha
proporcionado.
Primariamente, O Homem Ideal é um filme omisso. Isso se estabelece a
partir da apresentação de uma narrativa derivada que se contenta com a
mediocridade de um roteiro que não encontra estória suficiente para sustentar
suas quase duas horas de duração. Em outras palavras, o longa caminha a passos
morosos enquanto acompanha a relação entre seus protagonistas; o problema não
está no ritmo, mas sim na irrelevância dos acontecimentos que se sucedem. Logo,
apesar da ocorrência de diversas situações, estas não impactam o andar do
enredo e não deixam uma marca que possa despertar reações significativas por
parte dos assistentes, ou seja, falta vigor à trama.
Impostos ao entrecho desde o início, Alma e Tom não possuem tempo para
desenvolver um vínculo sólido com o espectador. Esse aspecto afeta o próprio laço
da dupla que, ainda que evolua com os avanços da urdidura, não consegue
estender a química em tela a quem os assiste. Isto é, mesmo que os atores
tenham uma dinâmica super fluida, o público não se envolve com o casal em função
da inapetência do script, e se o assistente não se importa com os
personagens centrais, simplesmente não há interação com o núcleo motriz da película.
Vale frisar que as oportunidades que o texto possui de captar o interesse dos
espectadores são desperdiçadas, como exemplificam as menções à indústria de robôs
que, embora despertem curiosidade, permanecem apenas em território nuncupativo.
No que lhe concerne, a veia cômica do filme possui resultados melhores do
que os elementos discorridos acima. Ao princípio, as piadas surgem do
estranhamento que há entre as personalidades de Tom e Alma. Nesse sentido, o
longa se aproveita das particularidades do humanoide para arrancar risos
provenientes de sua ignorância com o mundo humano e a falta de aptidão nas relações
sociais; apesar de clichê, funciona. Convém salientar, sobretudo, que a
performance de Dan Stevens é imprescindível para que a produção alcance o
efeito almejado. Ou seja, o ator se mantém simpático, charmoso e inteligente o
tempo inteiro, o que denota o artificialismo de sua concepção não antrópica.
Dito isso, a película permite que as boas ideias do enredo escoem por
seus dedos. Em face da asserção, todos os supostos debates do texto são
oriundos de diálogos expositivos que buscam incutir alguma reflexão sem tê-las
trabalhado previamente. Essa característica se atesta principalmente por meio de Alma, esta
que, durante o terceiro ato, é utilizada como instrumento para verbalizar
conceitos que até então haviam sido negligenciados. O próprio arco da
personagem só ganha "camadas adicionais" por intermédio do uso de
falas que descrevem os sentimentos e conflitos existentes em seu âmago; não há sutileza,
tampouco preocupação em maturar tópicos sem recorrer à facilitações narrativas.
Por fim, cabe ressaltar alguns pontos que, ainda que pouco relevantes,
compõem uma parcela negativa do filme. Há uma cena em que Tom se encontra
rodeado por alguns cervos, porém, a péssima computação gráfica dos animais
inibe o impacto de toda a sequência. Outra questão diz respeito à trilha genérica
onde a tonalidade é cadenciada por batidas suaves que parecem reproduzir a
letargia diegética. Portanto, somados ao demais aspectos já mencionados, O
Homem Ideal é uma obra insípida que será esquecida quinze minutos após o seu término.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 23 de dezembro de 2021
Direção: Maria Schrader
Elenco: Maren Eggert, Dan Stevens, Sandra Hüller...
Gênero: Ficção científica
Nacionalidade: Alemanha
Sinopse (Adoro
Cinema):
Para obter fundos de
pesquisa para seus estudos, uma cientista aceita a oferta de participar de um
experimento extraordinário: durante três semanas, ela viverá com um robô
humanóide, criado para fazê-la feliz.
Avaliação:
IMDb: 7,1
Rotten: 96%
Metacritic: 78%
Filmow (média geral): 3,6
Kontaminantes (Matheus J. S.): 4
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