Embora as animações
que mais se destacaram em 2021 tenham sido por conta de campanhas milionárias
em vez de conteúdos qualitativamente significativos, o ano passado teve alguns
títulos bons, tais como Flee, Raya e o Último Dragão e A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas. Felizmente, Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente chega
para somar as produções que obtiveram realce por mérito e não por dinheiro.
Em primeira
análise, o filme é um estudo de personagem. Dito isso, o enredo acompanha duas
linhas narrativas que se complementam para engendrar a personalidade de Angeli,
uma que segue o próprio cartunista e outra que acompanha o icônico Bob Cuspe,
papel de maior relevância criado pelo artista. Nesse sentido, o longa brinca
com recursos metalinguísticos e surreais para entrelaçar os dois mundos e
discorrer sobre pautas que afetam ambos os protagonistas, tais como envelhecimento
e relações sociais. Ademais, vale notar como Angeli e Bob incorporam particularidades
de uma mesma pessoa, e, mesmo que alguns traços idiossincráticos divirjam, eles
se manifestam como simbolismos para o público compreender em um as
características do outro.
Posto isto, o
caráter ácido dos semblantes supracitados é fundamental para o espectador simpatizar
com eles e o roteiro criar suas piadas. Em face disso, a personalidade reclusa
e ranzinza de ambos originam atitudes socialmente condenáveis, mas genuínas, ou
seja, eles falam o que pensam e agem sem se importar com os outros. Desse modo,
é impossível o assistente não se identificar com alguma situação na qual
gostaria de ter se comportado conforme as figuras em tela, isto é, Angeli e Bob
são reflexos do que todo mundo pensa, porém não tem coragem de falar. Convém
salientar que o humor provém majoritariamente do choque entre esses indivíduos com
os demais integrantes do entrecho, pois suas reações espontâneas vão de encontro
ao que é considerado “politicamente correto”.
Ainda concernente
ao tom jocoso da película, a montagem possui sua parcela de responsabilidade ao
despertar gargalhadas por meio de cenas que se emendam em sequência apresentando
personagens falando coisas totalmente opostas; é engraçado e contrastante. Os irmãos
Kowalski, por sua vez, são os coadjuvantes com maior ênfase e encarregados de
exercer o contraponto do Bob com comentários sarcásticos e cômicos. Atinente
aos demais papeis secundários, o filme consegue fazer com que as breves
participações deles sejam emblemáticas, cada qual com sua singularidade e
relevância para o caminhar da urdidura, além da unicidade de suas inclusões
serem justificadas de forma plausível pelo script. Dessa maneira, é importante frisar
como os personagens surgem com naturalidade dentro da trama, visto que as
piadas oriundas do encontro dos respectivos com Bob não são ao léu, muito pelo
contrário, elas fazem parte dos obstáculos que o protagonista precisa galgar
para atingir o seu objetivo (destaque para a cena hilária do pedágio).
Por fim, é pertinente
comentar acerca da trilha e alguns detalhes sobre os quais o longa peca.
Referente às faixas escolhidas, canções de punk rock ditam a jornada de Bob com
uma brutalidade que condiz com a natureza deste, em outras palavras, não há
outro gênero que pudesse melhor servir ao enredo. No que remete aos relapsos
narrativos, o primeiro ato é o que apresenta maiores inconsistências ao focar em
personagens terciários durante as entrevistas para o documentário que está
sendo gravado, ou seja, são indivíduos pouco carismáticos que ocupam o espaço daqueles
que realmente interessam ao público. No mais, há uma sequência próximo ao fim que
mastiga tópicos que já estavam implícitos ao espectador; é redundante,
expositivo e não funciona.
Em linhas gerais,
Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente é imperfeito, mas ainda assim consegue ser
a melhor animação de 2021.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de
lançamento (Brasil): 11 de novembro de 2021
Direção: Cesar
Cabral
Elenco: Milhem
Cortaz, Paulo Miklos, André Abujamra…
Gênero: Animação
Nacionalidade: Brasil
Sinopse (Adoro Cinema):
Em Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente, o icônico personagem dos
quadrinhos nos anos 80, Bob Cuspe, vive num deserto pós-apocalíptico infestado
por astros do pop que estão sempre tentando lhe matar. O cenário onde a
história se passa, na verdade, é um purgatório criado dentro da mente do
criador de Bob, o cartunista Angeli.
Avaliação:
IMDb: 7,1
Filmow (média geral): 3,7
Adoro Cinema (usuários): 3,0
Kontaminantes (Matheus
J. S.): 9
Uma animação muito boa e bem engraçada, como você falou a trilha foi uma ótima escolha, terminei o dia com sonífera ilha tocando na cabeça. A cena do pedágio não tem como.
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