4 de janeiro de 2022

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Spencer

Pôster

Adaptações cinematográficas da vida de indivíduos famosos não possuem um repertório favorável em Hollywood, basta observar o recente King Richard. Entretanto, Spencer, tema da presente análise, é dirigido por Pablo Larraín, diretor que possui um currículo invejável e habituado a lidar com a respectiva abordagem. Nesse sentido, o cineasta mais uma vez se aventura pela empreitada e obtém sucesso, assim como em seus trabalhos anteriores.
Em primeira análise, Spencer é um filme sobre a angústia de Diana em um mundo do qual ela não faz parte. Desde o princípio, o longa exalta a busca por liberdade da protagonista, contudo, é a partir da chegada da princesa ao Palácio de Buckingham que o enredo pode articular o desespero da personagem em função do ambiente que a cerca. Dito isso, o diretor utiliza os imensos pátios e salões da residência para salientar a solidão de Diana, bem como usa a quantidade infindável de ornamentos para contrastar com o vazio abissal da jovem moça. É também entre as luxuosas paredes da mansão que a película estabelece a frieza de seus residentes e o rigor dos procedimentos que ditam o convívio ali dentro.
Posto isto, a produção desmistifica a glamourização que existe entorno da família real. Em outras palavras, por trás dos opulentos jantares há uma série de condutas que alimentam a indiferença entre o relacionamento daqueles que deveriam ser os mais próximos. A exigência pela impecabilidade é o que desumaniza essas pessoas e molda as máscaras fotografadas por incontáveis paparazzi que vendem uma imagem falaz, mas rentável: a ideia da vida perfeita. Desse modo, o filme, por meio de sutis e profundos diálogos, não exime o público da culpa de ser o progenitor de tal indústria. Portanto, Spencer é, acima de tudo, o retrato lídimo de uma mulher que se rebela contra as tradições de um sistema que perdura há séculos.
Em face do exposto, a jornada de Diana é conduzida sob o olhar intimista de Larraín. O cineasta mantém o foco integral na princesa, permitindo que alguns coadjuvantes se destaquem brevemente apenas para auxiliar a construção atmosférica dos três dias explorados pelo entrecho, ou seja, tudo o que acontece é em prol dela. Outrossim, a câmera está sempre perto de seu rosto para representar a incessante sensação de claustrofobia da personagem. Por sua vez, o desalento que a aflige é traçado a partir da concepção de sequências progressivamente incômodas; a trilha enervante se eleva, a protagonista fica cada vez mais desconfortável e as circunstâncias tomam rumos absurdos que se manifestam como catarse alegórica de seu martírio.
(SPOILERS A SEGUIR) Nesse contexto, apesar do desfecho clichê, independente se os eventos vistos em tela realmente aconteceram ou não, é um alívio assistir Diana tendo um pouco de paz após tanto sofrimento. (FIM DOS SPOILERS) Dessa maneira, é importante frisar que a performance de Kristen Stewart é crucial para a eficiência da obra. Isto é, a atriz incorpora com maestria a personalidade de uma pessoa sufocada. A atuação é marcada por pequenos gestos que denunciam uma ansiedade cáustica, o que é incorporado por uma constante inquietude, agitação das mãos e um visível incômodo com os trajes vestidos. Ademais, vale mencionar que Jack Farthing interpreta um príncipe Charles álgido e impassível que, embora presente em poucas cenas, é bem-sucedido ao despertar a antipatia dos assistentes.
Por fim, o longa é sublime no que concerne aos aspectos técnicos. A utilização de planos abertos possibilita que os espectadores apreciem a suntuosa vista externa do Palácio de Buckingham, e a película, concomitantemente, esbanje o seu primor cenográfico na reconstituição da célebre residência. O público também tem a oportunidade de visitar o interior da mansão e desfrutar dos pomposos cômodos que a integram; o design de produção é assaz caprichoso, o que é constatado pela imensidão de detalhes que confeccionam a variedade de adornos de cada enquadramento. O figurino, igualmente majestoso, evoca a altivez da realeza com as mais distintas e exuberantes vestes usadas pelas personagens. Convém ressaltar, no entanto, que um diálogo expositivo a respeito de uma balança impede que a obra seja perfeita.
Dessarte, Spencer é um filme quase irretocável; o texto é afiado, a direção de Larraín é segura e a performance central de Kristen Stewart é a melhor de sua carreira.
Matheus J. S.
 
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 11 de dezembro de 2021
Direção: Pablo Larraín
Elenco: Kristen Stewart, Timothy Spall, Jack Nielen...
Gênero: Drama
Nacionalidade: Reino Unido e Alemanha

Sinopse (Filmow):
1991. Durante os feriados de fim de ano, a Princesa Diana (Kristen Stewart) percebe que seu casamento com o Príncipe Charles não está dando mais certo e resolve renegar um caminho que a colocava na linha de sucessão da coroa.

Avaliação:
IMDb: 6,8
Rotten: 84%
Metacritic: 76%
Filmow (média geral): 3,8
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9,5
Avaliação


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