Vencedor do prêmio
de Melhor Filme de 2021 pela National Society of Film Critics, Drive My Car é o
novo trabalho audiovisual do cineasta Ryusuke Hamaguchi. Elogiado por onde tem
passado, o longa é indubitavelmente um dos nomes mais comentados da temporada.
Primariamente, vale
dizer que Drive My Car é uma produção singela. A direção exerce poucas interferências
ao correr do enredo, o que permite que os atores tenham espaço para atuar e
elementos adjacentes se sobressaiam. Posto isto, Ryusuke gosta de estabelecer a
câmera e alternar entre um rosto e outro e deixar os personagens falarem. No
entanto, enquanto a concepção dialógica é, por um lado, responsável por desenvolver
a intimidade entre as figuras em tela, por outro é demasiado expositiva. Em
outras palavras, há diversas conversas que são praticamente monólogos, onde as
falas são claramente ensaiadas e não fluem com naturalidade, além de muitas coisas
serem verbalizadas sem necessidade ou se alongarem mais que o devido.
Em contraparte, o
roteiro demonstra maior sensibilidade concernente ao crescimento do laço que
molda o relacionamento entre seus personagens. Esse elo é trabalhado de modo
paulatino, sendo este um dos fatores preponderantes para a extensa duração da
película, afinal, construir e progredir uma relação demanda tempo. O vínculo
entre Yusuke e Misaki é o principal expoente nesse contexto, visto que a
quantidade de palavras trocadas entre eles cresce gradual e organicamente a
cada encontro; uma nova informação é fortuitamente assimilada ou uma saudação
diferente é proferida, mas, independentemente do que ocorre, a aliança se torna
genuinamente mais pujante.
O cenário utilizado
para explorar a conexão entre os semblantes supracitados é um Saab 900. A
importância do carro é imposta desde o princípio e possui o intuito de servir
como palco narrativo para o desenrolar de segmentos cruciais do entrecho. Sobretudo,
é uma escolha bastante inteligente que possibilita que o forte senso de rotina da
urdidura seja apregoado, bem como um pressuposto convincente para que Yusuke e
Misaki estejam sempre em contato. É, também, sobre aquelas quatro rodas que o
espectador pode conhecer melhor os protagonistas, ao passo que estórias sobre dor
e sofrimento vão sendo contadas e o filme se estabelece como ele é, ou seja, um
conto sobre os traços deixados por aqueles que partiram.
Vale ressaltar que,
a despeito dos já mencionados diálogos expositivos, o longa apresenta uma
postura contemplativa. Várias sequências são constituídas em função de
trivialidades sob as quais poucas coisas significantes são ditas, mas olhares são
trocados e expressam sentimentos que nenhuma palavra poderia expressar. Essas
cenas fazem com que o assistente se questione a todo instante a respeito das
motivações que levaram ao comportamento visto em tela, o que é efetuado por
meio de um inquietante silêncio onde os pormenores das performances ditam a
atmosfera e a direção se permite simplesmente observar.
Enfim, Drive My Car
não é tão sutil nos momentos em que deveria ser e esporadicamente se alonga
mais que o necessário nas palavras proferidas, demonstrando, por outro lado,
muito mais eficiência quando decide apostar em um tom sereno e intimista.
Matheus J. S.
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Ficha
Técnica:
Data de
lançamento (mundial): 20 de agosto de 2021
Direção: Ryusuke
Hamaguchi
Elenco: Hidetoshi
Nishijima, Toko Miura, Masaki Okada…
Gênero: Drama
Nacionalidade: Japão
Sinopse (Filmow):
Yusuke é ator e diretor de palco. Ele é casado com Fukaku, que trabalha
como dramaturga. Eles têm um casamento feliz, mas Fukaku desaparece de repente
e deixa um segredo. Dois anos depois, Yusuke assume o cargo de diretor em um
festival de teatro. Então ele vai para Hiroshima, dirigindo seu carro. Lá, ele
conhece sua motorista exclusiva, Misaki, que não fala muito.
Avaliação:
IMDb: 7,9
Rotten: 98%
Metacritic: 90%
Filmow (média geral): 4,1
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 8
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