Após vencer a
estatueta de Melhor Ator de maneira irrefragável por sua performance em
Coringa, Joaquin Phoenix retorna à indústria para protagonizar o recente
trabalho audiovisual de Mike Mills: Sempre em Frente. Contudo, será que o filme
está à altura de seu artista principal?
Primariamente, cabe
salientar que Sempre em Frente é uma obra intimista. Posto isto, o longa
estabelece o escrutínio de seu escopo a partir do relacionamento entre os três
personagens centrais (Johnny, Viv e Jesse) e a forma que esse vínculo possibilita
que o roteiro desenvolva os anseios individuais de cada um. Nesse sentido, é
assaz importante que o espectador compre a ideia de que aquelas pessoas são
parentes e se amam, e a película faz isso com propriedade. Desde o início, o
público compreende que os personagens possuem um elo mesmo sem saber de qual
tipo, o que é efetuado por meio das conversas que os respectivos mantêm à
distância e o passado traumático em comum.
No entanto, o laço mais
bem trabalhado entre os semblantes supracitados é entre Johnny e Jesse. Para
que essa corrente afetiva funcione, o filme apresenta previamente as
características do caráter do menino, tais como sagacidade, astúcia e uma
maturidade muito além de sua faixa etária, embora frequentemente sejam
desencadeadas situações que lembram o assistente de que Jesse é uma criança,
sobretudo. São esses traços idiossincráticos que propiciam os momentos de maior
intensidade da relação entre tio e sobrinho, visto que o script usa a
personalidade do garoto para esmiuçar o passado de Johnny. É, portanto, uma
amizade que cresce com o caminhar do entrecho e enseja confrontos que reverberam
tão alto quanto os gritos de desespero inaudíveis silenciados pela carapaça
estoica de seus interlocutores.
Dito isso, Sempre
em Frente é uma obra que lida com os seus personagens sob uma perspectiva extremamente
humana e delicada. Ainda que algumas coisas se mantenham em campo subjetivo, o
longa aborda assuntos que permeiam a própria vida e os conflitos que temos com
nós mesmos, traçando reflexões sobre decisões há muito tomadas e evitando
fornecer respostas concretas para questões tão complexas que se tornam até
difíceis de descrever. Em meio a esse emaranhado de sentimentos confusos, a
película utiliza o olhar pueril de Jesse para representar a impotência de uma
criança no centro de um universo problemático. Logo, o público é convidado a estudar
como tais incertezas afetam a vida desse jovem, como ele reage e como expressa
suas emoções através do comportamento.
Sob um panorama mais
amplo, a trama se apropria da profissão de Johnny (jornalista de rádio) para
conceber entrevistas com várias crianças e lhes indagar acerca de suas visões
de mundo e das expectativas com o futuro. Além dos trechos serem bastante
genuínos, a produção utiliza os respectivos segmentos para reproduzir em escala
macro as angústias da seara infantil, ao mesmo tempo em que destrincha em
proporções singelas os dilemas pessoais de Jesse. Desse modo, ao passo que
Sempre em Frente demonstra sensibilidade para lidar com os seus rostos mais
novos, falta argúcia no que concerne ao arco da Viv e seu marido. Em outras
palavras, o núcleo opera com eficiência enquanto observamos o impacto da circunstância
sobre o espectro da personagem, porém perde força quando o filme introduz sequências
dispersas atinentes ao que já está subtendido em tela.
Por fim, é premente
discorrer a respeito da fotografia e das atuações. Começando por estas, a
atuação de Joaquin Phoenix é minimalista, ou seja, a sua persona absorve muito mais
do que expele. Todavia, isso não é empecilho para que o ator porto-riquenho
interprete com magnificência a natureza introspectiva de Johnny, considerando
que o silêncio e as expressões da respectiva figura são suficientes para
apregoar os traços da personalidade destacada. Por sua vez, Gaby Hoffmann veste
com consentaneidade o papel de uma mãe e esposa conflituosa, enquanto Woody
Norman convence como um menino perspicaz, mas que permanece tão inocente em seu
âmago quanto sua idade atesta. No mais, a escolha pela fotografia em preto e
branco possui motivações poéticas e dialoga com a ótica intimista da urdidura.
Em síntese, Sempre
em Frente é uma produção modesta, mas que está disposta a convidar o seu
público a ruminar elucubrações que muitas vezes simplesmente não têm respostas.
Matheus J. S.
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Ficha
Técnica:
Data de
lançamento (Brasil): 17 de fevereiro de 2022
Direção: Mike
Mills
Elenco: Joaquin
Phoenix, Woody Norman, Gaby Hoffmann...
Gênero: Drama
Nacionalidade:
EUA
Sinopse (Adoro Cinema):
Johnny é um jornalista de rádio que viaja pelo país entrevistando
várias crianças sobre seus pensamentos a respeito de seu mundo e seu futuro.
Avaliação:
IMDb: 7,7
Rotten: 94%
Metacritic: 81%
Filmow (média geral): 3,9
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 9
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