2021 foi um ano especial para as produções fora do circuito hollywoodiano. A Pior Pessoa do Mundo, Reze Pelas Mulheres Roubadas e A Mão de Deus são apenas alguns dos excelentes títulos lançados. Nesse sentido, representando Malta, surge Entre Águas, filme de estreia do diretor Alex Camilleri.

Em primeira análise, o cineasta prima uma abordagem crua para estabelecer a vida e os dilemas de Jesmark. Essa empreitada enseja uma trama permeada por um tom verossimilhante que, por sua vez, permite que os espectadores sejam facilmente enternecidos pelos conflitos acometidos sobre o personagem. Em outras palavras, ainda que o protagonista não esbanje carisma, é natural que o público simpatize com este, pois os percalços vistos em tela podem eventualmente dialogar com algum tipo de dificuldade enfrentado pelo próprio assistente. Afinal, o que está em jogo não é simplesmente a profissão de Jesmark, mas a sobrevivência sua e de seus entes queridos. Logo, a película se aproveita dessa premissa para estreitar a relação entre os interlocutores e tecer uma narrativa de cunho universal.

Outro tema bastante explorado é o amor que o pescador sente pelo trabalho exercido. Essa paixão possibilita que os espectadores compreendam os motivos que o levam a tomar decisões muitas vezes irracionais, haja visto que a pesca o acompanha desde pequeno e faz parte de sua identidade. Nesse contexto, o longa também consegue exercer reflexões que abrangem o fato de a labuta mencionada ser pouco relevante nos dias de hoje e potencialmente extinta no futuro. Essa percepção gera uma série de impasses sociais que fazem o público se indagar a respeito das medidas que o Estado tomará para gerir tais párias, como será o seu processo de reintegração ao mercado de trabalho e como serão mitigadas as consequências psicológicas sobre alguém que se viu abruptamente tomado daquilo que sempre foi a sua vida. Por conseguinte, são levantadas questões que discutem pautas como corrupção e desigualdade, considerando que os pescadores são pessoas pobres e as figuras detentoras do poder são representadas sob os lauréis que o respectivo posto as traz.

Embora inúmeros debates possam ser extraídos do enredo, a película lida com eles de maneira sutil e estimula a capacidade de elucubração dos assistentes a partir dos olhares silenciosos de Jesmark; é um artifício eficiente que cumpre a sua função sem sequer uma palavra. No entanto, o recurso é intermitente, pois esporadicamente o roteiro sente a necessidade de incluir uma frase ou outra para elucidar pontos que já estavam implícitos. Vale frisar, em contraparte, que o texto acerta ao fornecer um desfecho agridoce ao personagem central sem precisar verbalizar seus sentimentos; é, sobretudo, um encerramento muito humano que corrobora os eventos assistidos até então.

No que concerne aos semblantes secundários, David, principal colega de Jesmark, serve para o entrecho engendrar cenas cativantes entre a dupla e orquestrar um dilema moral para o protagonista. Por sua vez, a esposa do pescador, mesmo com pouco realce individual, tem tempo de tela suficiente junto com o marido para o espectador entender seus conflitos e motivações. Posto isto, os confrontos que o casal possui entre si não são inéditos, mas funcionam porque são pertinentes à situação que eles vivem. Outrossim, é importante salientar que o menor destaque a Denise se justifica por intermédio da afirmação de que Entre Águas é, acima de tudo, um filme sobre Jesmark. Essa característica imposta desde o princípio permite que a urdidura tenha um conciso foco narrativo que, em decorrência, propicia os resultados consistentes até aqui enaltecidos.

No mais, Entre Águas é uma obra genuína e humana que carrega com orgulho a sua nacionalidade e representa o pontapé certeiro de Alex Camilleri para encetar a carreira.

Matheus J. S.

 

Assista e Kontamine-se

 

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Ficha Técnica:

Data de lançamento (Sundance): 29 de janeiro de 2021

Direção: Alex Camilleri

Elenco: Jesmark Scicluna, Michela Farrugia, David Scicluna...

Gênero: Drama

Nacionalidade: Malta

Sinopse (Filmow):

Um pescador em Malta arrisca tudo para sustentar sua família.

Avaliação:

IMDb: 7,1

Rotten: 100%

Metacritic: 79%

Filmow (média geral): 3,3

Adoro Cinema (usuários): 3,0

Kontaminantes (Matheus J. S.): 9,5

Entre Águas

2021 foi um ano especial para as produções fora do circuito hollywoodiano. A Pior Pessoa do Mundo, Reze Pelas Mulheres Roubadas e A Mão de Deus são apenas alguns dos excelentes títulos lançados. Nesse sentido, representando Malta, surge Entre Águas, filme de estreia do diretor Alex Camilleri.

Em primeira análise, o cineasta prima uma abordagem crua para estabelecer a vida e os dilemas de Jesmark. Essa empreitada enseja uma trama permeada por um tom verossimilhante que, por sua vez, permite que os espectadores sejam facilmente enternecidos pelos conflitos acometidos sobre o personagem. Em outras palavras, ainda que o protagonista não esbanje carisma, é natural que o público simpatize com este, pois os percalços vistos em tela podem eventualmente dialogar com algum tipo de dificuldade enfrentado pelo próprio assistente. Afinal, o que está em jogo não é simplesmente a profissão de Jesmark, mas a sobrevivência sua e de seus entes queridos. Logo, a película se aproveita dessa premissa para estreitar a relação entre os interlocutores e tecer uma narrativa de cunho universal.

Outro tema bastante explorado é o amor que o pescador sente pelo trabalho exercido. Essa paixão possibilita que os espectadores compreendam os motivos que o levam a tomar decisões muitas vezes irracionais, haja visto que a pesca o acompanha desde pequeno e faz parte de sua identidade. Nesse contexto, o longa também consegue exercer reflexões que abrangem o fato de a labuta mencionada ser pouco relevante nos dias de hoje e potencialmente extinta no futuro. Essa percepção gera uma série de impasses sociais que fazem o público se indagar a respeito das medidas que o Estado tomará para gerir tais párias, como será o seu processo de reintegração ao mercado de trabalho e como serão mitigadas as consequências psicológicas sobre alguém que se viu abruptamente tomado daquilo que sempre foi a sua vida. Por conseguinte, são levantadas questões que discutem pautas como corrupção e desigualdade, considerando que os pescadores são pessoas pobres e as figuras detentoras do poder são representadas sob os lauréis que o respectivo posto as traz.

Embora inúmeros debates possam ser extraídos do enredo, a película lida com eles de maneira sutil e estimula a capacidade de elucubração dos assistentes a partir dos olhares silenciosos de Jesmark; é um artifício eficiente que cumpre a sua função sem sequer uma palavra. No entanto, o recurso é intermitente, pois esporadicamente o roteiro sente a necessidade de incluir uma frase ou outra para elucidar pontos que já estavam implícitos. Vale frisar, em contraparte, que o texto acerta ao fornecer um desfecho agridoce ao personagem central sem precisar verbalizar seus sentimentos; é, sobretudo, um encerramento muito humano que corrobora os eventos assistidos até então.

No que concerne aos semblantes secundários, David, principal colega de Jesmark, serve para o entrecho engendrar cenas cativantes entre a dupla e orquestrar um dilema moral para o protagonista. Por sua vez, a esposa do pescador, mesmo com pouco realce individual, tem tempo de tela suficiente junto com o marido para o espectador entender seus conflitos e motivações. Posto isto, os confrontos que o casal possui entre si não são inéditos, mas funcionam porque são pertinentes à situação que eles vivem. Outrossim, é importante salientar que o menor destaque a Denise se justifica por intermédio da afirmação de que Entre Águas é, acima de tudo, um filme sobre Jesmark. Essa característica imposta desde o princípio permite que a urdidura tenha um conciso foco narrativo que, em decorrência, propicia os resultados consistentes até aqui enaltecidos.

No mais, Entre Águas é uma obra genuína e humana que carrega com orgulho a sua nacionalidade e representa o pontapé certeiro de Alex Camilleri para encetar a carreira.

Matheus J. S.

 

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Ficha Técnica:

Data de lançamento (Sundance): 29 de janeiro de 2021

Direção: Alex Camilleri

Elenco: Jesmark Scicluna, Michela Farrugia, David Scicluna...

Gênero: Drama

Nacionalidade: Malta

Sinopse (Filmow):

Um pescador em Malta arrisca tudo para sustentar sua família.

Avaliação:

IMDb: 7,1

Rotten: 100%

Metacritic: 79%

Filmow (média geral): 3,3

Adoro Cinema (usuários): 3,0

Kontaminantes (Matheus J. S.): 9,5