O cinema brasileiro sempre esteve acompanhado por preconceitos. Grande parte disso provém das comédias escrachadas que são majoritariamente frisadas em detrimento de outros gêneros, assim como o apreço por blockbusters hollywoodianos que lotam as salas de cinema enquanto apenas uma sessão é reservada para conteúdos nacionais. Dito isso, é uma pena que pouca gente tenha visto Deserto Particular, longa de Aly Muritiba que desponta como um dos melhores de 2021.

Introdutoriamente, a película tem início apresentando Daniel e os elementos que compõem sua rotina, como o trabalho, a família e uma namorada virtual. Tais fatores se aglutinam organicamente em tela e servem para afeiçoar o espectador ao protagonista. É uma estratégia bastante eficiente, pois, ao saber que o indivíduo em questão cometeu um crime, mas sem saber qual, o público se autocensura com receio de estar simpatizando com um homem ruim. No entanto, o filme não trabalha com dualidades, muito pelo contrário, ele expõe a polivalência emocional do personagem e apresenta tanto as ações mais gentis deste quanto seus impulsos mais incontroláveis.

Dessarte, o longa arquiteta uma guinada em seu segundo ato que altera drasticamente o rumo da narrativa. Nesse sentido, há uma mudança de foco de personagem que cobra um reinvestimento do assistente na estória, além desta transição ocorrer em uma mesma cena de forma totalmente fluida. É, sobretudo, uma manobra intrépida, mas que funciona e tão logo consegue fazer o espectador se conectar ao novo protagonista. Ademais, é por meio do arco de Sara que o enredo conduz o debate de temas como preconceito, perseguição, estigmas sociais, fanatismo religioso e abuso de poder. Posto isto, embora Deserto Particular seja uma produção tupiniquim, suas pautas são universais, basta o público colocar no telejornal de qualquer país e se ver absorto por uma enxurrada de notícias envolvendo o assassinato de homossexuais e outras demonstrações de intolerância.

Também sob o encargo de Aly Muritiba, o roteiro é assaz atencioso com os detalhes. Dessa maneira, todas as cenas são relevantes e, mesmo que não representem nada instantaneamente, elas retornam lá na frente e repercutem de modo que o assistente sequer possa imaginar. A participação de rostos secundários reverbera efeitos similares, haja visto que os coadjuvantes complementam o plot dos protagonistas de forma que o espectador possa conhecê-los melhor. Outrossim, o script desenvolve seus principais semblantes continuamente e sem jamais fazer prejulgamentos, além de moldar a colisão entre ambos de maneira que um sirva ao outro para enriquecer o próprio arco.

No mais, Deserto Particular tem um texto consistente e afiado, subverte as expectativas do público e explora camadas imprevistas para conceber uma das melhores obras do cinema brasileiro.

Matheus J. S.

 

Assista e Kontamine-se

 

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Ficha Técnica:

Data de lançamento (Brasil): 25 de novembro de 2021

Direção: Aly Muritiba

Elenco: Antonio Saboia, Luthero de Almeida, Thomas Aquino …

Gênero: Drama

Nacionalidade: Brasil

Sinopse (Adoro Cinema):

Em Deserto Particular, Daniel é um policial exemplar, mas acaba cometendo um erro que coloca em risco sua carreira e sua honra. Quando nada mais parece o prender a Curitiba, ele parte em busca de Sara, uma mulher com quem se relaciona virtualmente. Ele então mergulha em um intenso processo interno para aprender a lidar melhor com seus próprios afetos.

Avaliação:

IMDb: 7,7

Filmow (média geral): 3,8

Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 3,3/4,0

Kontaminantes (Matheus J. S.): 10

Deserto Particular

O cinema brasileiro sempre esteve acompanhado por preconceitos. Grande parte disso provém das comédias escrachadas que são majoritariamente frisadas em detrimento de outros gêneros, assim como o apreço por blockbusters hollywoodianos que lotam as salas de cinema enquanto apenas uma sessão é reservada para conteúdos nacionais. Dito isso, é uma pena que pouca gente tenha visto Deserto Particular, longa de Aly Muritiba que desponta como um dos melhores de 2021.

Introdutoriamente, a película tem início apresentando Daniel e os elementos que compõem sua rotina, como o trabalho, a família e uma namorada virtual. Tais fatores se aglutinam organicamente em tela e servem para afeiçoar o espectador ao protagonista. É uma estratégia bastante eficiente, pois, ao saber que o indivíduo em questão cometeu um crime, mas sem saber qual, o público se autocensura com receio de estar simpatizando com um homem ruim. No entanto, o filme não trabalha com dualidades, muito pelo contrário, ele expõe a polivalência emocional do personagem e apresenta tanto as ações mais gentis deste quanto seus impulsos mais incontroláveis.

Dessarte, o longa arquiteta uma guinada em seu segundo ato que altera drasticamente o rumo da narrativa. Nesse sentido, há uma mudança de foco de personagem que cobra um reinvestimento do assistente na estória, além desta transição ocorrer em uma mesma cena de forma totalmente fluida. É, sobretudo, uma manobra intrépida, mas que funciona e tão logo consegue fazer o espectador se conectar ao novo protagonista. Ademais, é por meio do arco de Sara que o enredo conduz o debate de temas como preconceito, perseguição, estigmas sociais, fanatismo religioso e abuso de poder. Posto isto, embora Deserto Particular seja uma produção tupiniquim, suas pautas são universais, basta o público colocar no telejornal de qualquer país e se ver absorto por uma enxurrada de notícias envolvendo o assassinato de homossexuais e outras demonstrações de intolerância.

Também sob o encargo de Aly Muritiba, o roteiro é assaz atencioso com os detalhes. Dessa maneira, todas as cenas são relevantes e, mesmo que não representem nada instantaneamente, elas retornam lá na frente e repercutem de modo que o assistente sequer possa imaginar. A participação de rostos secundários reverbera efeitos similares, haja visto que os coadjuvantes complementam o plot dos protagonistas de forma que o espectador possa conhecê-los melhor. Outrossim, o script desenvolve seus principais semblantes continuamente e sem jamais fazer prejulgamentos, além de moldar a colisão entre ambos de maneira que um sirva ao outro para enriquecer o próprio arco.

No mais, Deserto Particular tem um texto consistente e afiado, subverte as expectativas do público e explora camadas imprevistas para conceber uma das melhores obras do cinema brasileiro.

Matheus J. S.

 

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Ficha Técnica:

Data de lançamento (Brasil): 25 de novembro de 2021

Direção: Aly Muritiba

Elenco: Antonio Saboia, Luthero de Almeida, Thomas Aquino …

Gênero: Drama

Nacionalidade: Brasil

Sinopse (Adoro Cinema):

Em Deserto Particular, Daniel é um policial exemplar, mas acaba cometendo um erro que coloca em risco sua carreira e sua honra. Quando nada mais parece o prender a Curitiba, ele parte em busca de Sara, uma mulher com quem se relaciona virtualmente. Ele então mergulha em um intenso processo interno para aprender a lidar melhor com seus próprios afetos.

Avaliação:

IMDb: 7,7

Filmow (média geral): 3,8

Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 3,3/4,0

Kontaminantes (Matheus J. S.): 10