23 de janeiro de 2022

Kontaminantes ☣ , A Mão de Deus , Drama-filme , Filmes ,

A Mão de Deus

Pôster

Filmes estrangeiros sempre se destacaram fora do circuito de Hollywood. Ainda que todos os anos sejam lançados inúmeras produções não faladas em língua inglesa, 2021 foi um ano especial para elas. Posto isto, A Mão de Deus chega para reiterar tal asserção.
Primariamente, o longa tem um início frenético onde o espectador é jogado dentro da efervescência de personagens que compõem o núcleo familiar de Fabietto. Não há apresentações formais e muitos elementos podem soar estranhos a princípio para o público, o que é posteriormente remitido. Essa estratégia é utilizada como forma de inocular o ritmo hodierno do enredo e permitir que os assistentes se familiarizem com os semblantes em tela de modo natural ao longo da trama. Logo, a utilização da montagem é essencial para intercalar em uma mesma cena os distintos integrantes daquela família e possibilitar que o assistente se delicie com a interação deles entre si.
Nesse sentido, a dinâmica que rege o convívio dos personagens é leve e jocosa, principalmente por conta das particularidades de cada um. A sensibilidade com que Paolo Sorrentino escreve o relacionamento das figuras em cena denota muita intimidade com a sua criação, o que é justificado pelo fato de o roteiro ser inspirado na vida do diretor. Ainda concernente aos indivíduos supracitados, estes operam com eficiência quando juntos de Fabietto, porém, perdem a função quando a narrativa lhes atribui enfoque à parte, visto que eles não possuem espaço suficiente para representar algo maior dentro do entrecho. As exceções são referentes aos pais do protagonista, seu irmão e sua tia Patrizia, pois estes possuem influência direta na urdidura e, consequentemente, no seu arco.
Outrossim, A Mão de Deus é o recorte de um dos momentos mais impactantes da jornada de Sorrentino até hoje. Em outras palavras, o cineasta representa a si mesmo na figura de Fabietto para retratar os sentimentos de um período de transformações, ou seja, a película é, acima de tudo, sobre um menino descobrindo o mundo. Isso se atesta por meio dos subnúcleos que expressam as minúcias responsáveis por tornar Paolo quem ele é, como a relação com os pais, a admiração por Maradona, amizades fortuitas, mulheres, cinema e a paixão pela tia. Para tal, o diretor usa planos que simplesmente observam o personagem olhando absorto para algo com o intuito de manifestar o fascínio que ele está sentindo com alguma coisa recém-descoberta, ou seja, é um olhar de encanto que reflete uma das fases mais belas da vida. Convém salientar, ademais, que a fotografia pontuada por paletas azuis e amarelas corrobora visualmente o tom auspicioso do script.
No entanto, quando o texto precisa ser mais dramático, o resultado é, de similar maneira, tão eficaz quanto. (SPOILERS A SEGUIR) Isso se aplica especialmente à morte dos pais do protagonista, considerando que o peso da partida do casal é acentuado tanto em prol do realce que eles obtiveram até então quanto da proximidade constituída com o filho. (FIM DOS SPOILERS) Esse teor de maior densidade narrativa também se sobressai durante o último terço do filme, quando a abordagem se torna mais contemplativa e intimista à medida que Fabietto amadurece e precisa tomar decisões difíceis. Vale frisar que a performance de Filippo Scotti condiz com as transições emocionais de sua persona, como deslumbramento, aflição e regozijo.
Em última análise, A Mão de Deus é uma obra pessoal que se destaca pela forma carinhosa com que Sorrentino olha para o seu passado.
Matheus J. S.
 
Assista e Kontamine-se
 
Comente, Compartilhe e Siga Nosso Blog
 
Ficha Técnica:
Data de lançamento (Netflix): 15 de dezembro de 2021
Direção: Paolo Sorrentino
Elenco: Filippo Scotti, Toni Servillo, Teresa Saponangelo…
Gênero: Drama
Nacionalidade: Itália

Sinopse (Netflix):
Na Nápoles dos anos 80, um jovem louco por futebol se vê diante de uma tragédia familiar que define seu futuro incerto, porém promissor, como cineasta.

Avaliação:
IMDb: 7,5
Rotten: 83%
Metacritic: 76%
Filmow (média geral): 3,7
Adoro Cinema (usuários): 3,3
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
A Mão de Deus


Nenhum comentário:

Postar um comentário