Filmes estrangeiros sempre se destacaram fora do circuito de Hollywood.
Ainda que todos os anos sejam lançados inúmeras produções não faladas em língua
inglesa, 2021 foi um ano especial para elas. Posto isto, A Mão de Deus chega
para reiterar tal asserção.
Primariamente, o longa tem um início frenético onde o espectador é jogado
dentro da efervescência de personagens que compõem o núcleo familiar de Fabietto.
Não há apresentações formais e muitos elementos podem soar estranhos a princípio
para o público, o que é posteriormente remitido. Essa estratégia é utilizada
como forma de inocular o ritmo hodierno do enredo e permitir que os assistentes
se familiarizem com os semblantes em tela de modo natural ao longo da trama.
Logo, a utilização da montagem é essencial para intercalar em uma mesma cena os
distintos integrantes daquela família e possibilitar que o assistente se
delicie com a interação deles entre si.
Nesse sentido, a dinâmica que rege o convívio dos personagens é leve e
jocosa, principalmente por conta das particularidades de cada um. A
sensibilidade com que Paolo Sorrentino escreve o relacionamento das figuras em
cena denota muita intimidade com a sua criação, o que é justificado pelo fato
de o roteiro ser inspirado na vida do diretor. Ainda concernente aos indivíduos
supracitados, estes operam com eficiência quando juntos de Fabietto, porém,
perdem a função quando a narrativa lhes atribui enfoque à parte, visto que eles
não possuem espaço suficiente para representar algo maior dentro do entrecho.
As exceções são referentes aos pais do protagonista, seu irmão e sua tia
Patrizia, pois estes possuem influência direta na urdidura e, consequentemente,
no seu arco.
Outrossim, A Mão de Deus é o recorte de um dos momentos mais impactantes
da jornada de Sorrentino até hoje. Em outras palavras, o cineasta representa a
si mesmo na figura de Fabietto para retratar os sentimentos de um período de
transformações, ou seja, a película é, acima de tudo, sobre um menino
descobrindo o mundo. Isso se atesta por meio dos subnúcleos que expressam as
minúcias responsáveis por tornar Paolo quem ele é, como a relação com os pais, a admiração por Maradona, amizades fortuitas, mulheres, cinema e a paixão pela tia. Para
tal, o diretor usa planos que simplesmente observam o personagem olhando
absorto para algo com o intuito de manifestar o fascínio que ele está sentindo com
alguma coisa recém-descoberta, ou seja, é um olhar de encanto que reflete uma
das fases mais belas da vida. Convém salientar, ademais, que a fotografia
pontuada por paletas azuis e amarelas corrobora visualmente o tom auspicioso do
script.
No entanto, quando o texto precisa ser mais dramático, o resultado é, de
similar maneira, tão eficaz quanto. (SPOILERS A SEGUIR)
Isso se aplica especialmente à morte dos pais do protagonista, considerando que
o peso da partida do casal é acentuado tanto em prol do realce que eles obtiveram até
então quanto da proximidade constituída com o filho. (FIM DOS SPOILERS) Esse
teor de maior densidade narrativa também se sobressai durante o último terço do
filme, quando a abordagem se torna mais contemplativa e intimista à medida que Fabietto
amadurece e precisa tomar decisões difíceis. Vale frisar que a performance de Filippo
Scotti condiz com as transições emocionais de sua persona, como deslumbramento,
aflição e regozijo.
Em última análise, A Mão de Deus é uma obra pessoal que se destaca pela
forma carinhosa com que Sorrentino olha para o seu passado.
Matheus J. S.
Assista e
Kontamine-se
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Ficha
Técnica:
Data de lançamento (Netflix): 15 de dezembro de
2021
Direção: Paolo Sorrentino
Elenco: Filippo Scotti, Toni Servillo, Teresa
Saponangelo…
Gênero: Drama
Nacionalidade: Itália
Sinopse
(Netflix):
Na Nápoles dos anos 80, um
jovem louco por futebol se vê diante de uma tragédia familiar que define seu
futuro incerto, porém promissor, como cineasta.
Avaliação:
IMDb: 7,5
Rotten: 83%
Metacritic: 76%
Filmow (média geral):
3,7
Adoro Cinema
(usuários): 3,3
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
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