Reconhecido
mundialmente entre os cinéfilos por ter sido o único cineasta a levar a Palma
de Ouro para a Tailândia, Apichatpong Weerasethakul é um diretor incomum.
Distante das explosões e tramas mirabolantes de Hollywood, o tailandês concebe
seus filmes como uma experiência única e sensorial. Entretanto, ainda que esta
característica seja a sua maior virtude, também é o seu calcanhar de Aquiles.
Em primeira
análise, dizer que Memoria é uma película contemplativa seria um eufemismo
perto do que realmente é. Desse modo, Apichatpong engendra uma estória pontuada
por sequências extremamente longas onde, muitas vezes, não acontece nada. Essa
abordagem surge como forma de representar a singularidade do cinema de Weerasethakul,
no qual o significado das cenas e a exposição de informações são deixadas em
segundo plano. Dito isso, o cineasta busca criar um laço entre o assistente, os
personagens e o cenário que se articulam em prol da subjetividade do público e a
sua presteza em absorver o que está sendo mostrado. Logo, Memoria proporciona
uma experiência passiva que depende inteiramente do espectador se posicionar.
Nesse sentido,
embora a ausência de respostas abra margem para múltiplas interpretações e seja
benéfica para o enriquecimento da pauta com diferentes pontos de vista, a
carência que o enredo possui de uma diretriz afeta a capacidade que o
assistente tem de divagar a respeito, pois ao mesmo tempo em que este pode tratar
de assuntos diversos, ele também pode não falar sobre nada. Dependendo da
perspectiva, Memoria pode ser simplesmente um compilado de cenas desconexas que
misturam personagens e situações avulsas. Posto isto, o filme até fornece elementos
para auxiliar a leitura dos subtextos do entrecho, porém, a inserção destes ao
término da produção faz com que o restante da obra já tenha sido comprometido.
Para instituir o
seu caráter meditativo, o diretor aposta na fixação da câmera e o desenrolar
paulatino do trecho em vigência. Muitas vezes, o cenário é filmado durante
vários minutos até alguém entrar nele e após deixá-lo, o que propicia uma
profunda imiscuidade cenográfica, mas também testa a paciência dos
espectadores. De similar modo, os diálogos são propositadamente constituídos por
falas pausadas e enormes intervalos entre uma frase e outra, ensejando, em decorrência,
blocos praticamente oníricos.
Outrossim, a
composição sonora do longa merece nota. Em outras palavras, a monotonia
narrativa possibilita que os barulhos estranhos escutados pela protagonista,
quando aconteçam, gerem impacto mediante a singularidade de suas ocorrências.
Nesse contexto, a película é sinestésica ao desafiar os assistentes com as
batidas enervantes que incomodam a personagem central, assim como ao fazer uso
de um incessante som cacofônico ao fundo que, somados, brincam com a imaginação
do público enquanto criam uma atmosfera inquietante. Vale salientar
que a performance de Tilda Swinton é fundamental para transmitir a perturbação
de sua persona, ou seja, é uma atuação minimalista marcada pelas pequenas
reações de incômodo e aflição.
No mais, Memoria não
fornece recursos suficientes para o público sintetizar ideias sólidas, e, apesar
deste fator originar uma experiência totalmente arbitrária, o filme consegue
ser intrigante e exigir um assíduo comprometimento daqueles que o assistem.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de
lançamento (Colômbia): 30 de setembro de 2021
Direção: Apichatpong Weerasethakul
Elenco: Tilda
Swinton, Elkin Díaz, Jeanne Balibar …
Gênero: Drama
Nacionalidade: Colômbia
Sinopse (Filmow):
Uma agricultora de orquídeas visita a sua irmã em Bogotá. Lá, ela faz
amizade com uma arqueóloga francesa. Toda noite ela é incomodada por barulhos
cada vez mais fortes que a impedem de dormir.
Avaliação:
IMDb: 6,9
Rotten: 91%
Metacritic: 91%
Kontaminantes (Matheus
J. S.): 6
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