21 de janeiro de 2022

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Memoria

Pôster

Reconhecido mundialmente entre os cinéfilos por ter sido o único cineasta a levar a Palma de Ouro para a Tailândia, Apichatpong Weerasethakul é um diretor incomum. Distante das explosões e tramas mirabolantes de Hollywood, o tailandês concebe seus filmes como uma experiência única e sensorial. Entretanto, ainda que esta característica seja a sua maior virtude, também é o seu calcanhar de Aquiles.
Em primeira análise, dizer que Memoria é uma película contemplativa seria um eufemismo perto do que realmente é. Desse modo, Apichatpong engendra uma estória pontuada por sequências extremamente longas onde, muitas vezes, não acontece nada. Essa abordagem surge como forma de representar a singularidade do cinema de Weerasethakul, no qual o significado das cenas e a exposição de informações são deixadas em segundo plano. Dito isso, o cineasta busca criar um laço entre o assistente, os personagens e o cenário que se articulam em prol da subjetividade do público e a sua presteza em absorver o que está sendo mostrado. Logo, Memoria proporciona uma experiência passiva que depende inteiramente do espectador se posicionar.
Nesse sentido, embora a ausência de respostas abra margem para múltiplas interpretações e seja benéfica para o enriquecimento da pauta com diferentes pontos de vista, a carência que o enredo possui de uma diretriz afeta a capacidade que o assistente tem de divagar a respeito, pois ao mesmo tempo em que este pode tratar de assuntos diversos, ele também pode não falar sobre nada. Dependendo da perspectiva, Memoria pode ser simplesmente um compilado de cenas desconexas que misturam personagens e situações avulsas. Posto isto, o filme até fornece elementos para auxiliar a leitura dos subtextos do entrecho, porém, a inserção destes ao término da produção faz com que o restante da obra já tenha sido comprometido.  
Para instituir o seu caráter meditativo, o diretor aposta na fixação da câmera e o desenrolar paulatino do trecho em vigência. Muitas vezes, o cenário é filmado durante vários minutos até alguém entrar nele e após deixá-lo, o que propicia uma profunda imiscuidade cenográfica, mas também testa a paciência dos espectadores. De similar modo, os diálogos são propositadamente constituídos por falas pausadas e enormes intervalos entre uma frase e outra, ensejando, em decorrência, blocos praticamente oníricos.
Outrossim, a composição sonora do longa merece nota. Em outras palavras, a monotonia narrativa possibilita que os barulhos estranhos escutados pela protagonista, quando aconteçam, gerem impacto mediante a singularidade de suas ocorrências. Nesse contexto, a película é sinestésica ao desafiar os assistentes com as batidas enervantes que incomodam a personagem central, assim como ao fazer uso de um incessante som cacofônico ao fundo que, somados, brincam com a imaginação do público enquanto criam uma atmosfera inquietante. Vale salientar que a performance de Tilda Swinton é fundamental para transmitir a perturbação de sua persona, ou seja, é uma atuação minimalista marcada pelas pequenas reações de incômodo e aflição.
No mais, Memoria não fornece recursos suficientes para o público sintetizar ideias sólidas, e, apesar deste fator originar uma experiência totalmente arbitrária, o filme consegue ser intrigante e exigir um assíduo comprometimento daqueles que o assistem.
Matheus J. S.
 
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Colômbia): 30 de setembro de 2021
Direção: Apichatpong Weerasethakul
Elenco: Tilda Swinton, Elkin Díaz, Jeanne Balibar …
Gênero: Drama
Nacionalidade: Colômbia

Sinopse (Filmow):
Uma agricultora de orquídeas visita a sua irmã em Bogotá. Lá, ela faz amizade com uma arqueóloga francesa. Toda noite ela é incomodada por barulhos cada vez mais fortes que a impedem de dormir.

Avaliação:
IMDb: 6,9
Rotten: 91%
Metacritic: 91%
Kontaminantes (Matheus J. S.): 6
Avaliação


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