19 de janeiro de 2022

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Compartment N°6

Pôster

Após dois longas japoneses, um norueguês, um mexicano e um alemão, está na hora de discutir sobre o cinema finlandês. Posto isto, Compartment N°6 será o intermediário da conversa.
Em primeira análise, Compartment N°6 tem algumas características que merecem destaque. O filme abre com um plano de aproximadamente um minuto onde o diretor passeia de um cômodo ao outro seguindo a protagonista Laura. Neste, já se estabelece uma câmera over the shoulder que será predominante ao correr de toda a estória, esta usada para imprimir intimidade entre o público e a personagem. Vale ressaltar que a câmera na mão é outro traço tão logo imposto, sendo que o recurso é fundamental para instituir uma atmosfera quase amadora que, sobretudo, dialoga com o tom recordatório da película.
Nesse sentido, Compartment N°6 é um filme que fala sobre reminiscências. Assim, a fotografia escura e granulada e a textura crua da imagem são recursos visuais empregados com o intuito de fazer com que a obra pareça mais velha do que realmente é. Nesse sentido, embora não seja declarado em instante algum, o longa representa um carinhoso fragmento mnêmico, o que justifica o realce simbólico de uma filmadora na urdidura e a censura de palavrões como se Laura quisesse omitir as coisas sujas de suas lembranças. Por conseguinte, para se compreender a relevância de tais memórias na vida da protagonista, é pertinente notar como desde o princípio o enredo articula a ausência de felicidade na sua rotina.
Desse modo, ainda que Laura afirme ter um relacionamento pleno com sua parceira e estar realizando aquela viagem por paixão, a película concebe uma personagem que manifesta constante incômodo por meio de feições que não podem ser disfarçadas. É partindo dessa premissa que um improvável colega de compartimento se mostra a solução para um problemático capítulo da jornada de Laura. Dito isso, a produção acompanha com bastante doçura o desenvolvimento de laço entre dois desconhecidos, ganhando força pela similaridade com que os eventos expostos podem ter com algum episódio da vida do próprio espectador, afinal, quem nunca se afeiçoou à uma pessoa em um encontro fortuito e nunca mais a viu?
Dessarte, a inserção de Ljoha é crucial para o progresso da trama. Primordialmente, ele é uma incógnita, remetendo até a um criminoso ou homem depravado, e, mesmo que muitas perguntas ao seu respeito permaneçam sem resposta, o filme é eficaz ao instituir o seu significado para Laura. Em decorrência, o palco narrativo constituído pela claustrofobia de uma pequena seção de um vagão de trem permite que os personagens encontrem um no outro o ar que precisam. Em função disso, tendo em vista que os melhores trechos da obra são frutos da orgânica interação entre as principais figuras em tela, o filme perde o viço quando Ljoha não está em cena. Isso acontece por conta dos mistérios que rondam sua personalidade e devido a incrível dinâmica que os atores possuem atuando em conjunto.
Em suma, Compartment N°6 opta por uma narrativa onde a jornada é mais importante do que o destino, proporcionando, em consequência, uma experiência que pode ser a entrada de muitos assistentes para o vasto cinema finlandês.
Matheus J. S.
 
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (mundial): 2021
Direção: Juho Kuosmanen
Elenco: Seidi Haarla, Yuriy Borisov, Dinara Drukarova...
Gênero: Drama
Nacionalidade: Finlândia

Sinopse (Filmow):
Enquanto um trem segue seu caminho até o círculo ártico, dois estranhos compartilham uma jornada que mudará suas perspectivas de vida.

Avaliação:
IMDb: 7,4
Rotten: 87%
Metacritic: 78%
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
Avaliação


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