27 de janeiro de 2022

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Mães Paralelas

Pôster

Pedro Almodóvar é atualmente o diretor que melhor representa o cinema espanhol. Responsável por obras icônicas, como Ata-me, A Pele que Habito e Tudo Sobre Minha Mãe, o cineasta retorna à direção de um filme para contar a estória de duas mulheres que se conhecem prestes a dar à luz. Entretanto, será que a empreitada é mais um acerto na carreira de Almodóvar?
Em primeira análise, Mães Paralelas é um projeto audiovisual que tenta abranger várias tramas em um mesmo núcleo. Até os quarenta minutos de produção, que é quando o longa arquiteta sua melhor manobra, o enredo é sobre o processo de maternidade de uma mãe solteira. Apesar de não ser a vertente mais profícua do roteiro, esta serve para inocular a forte personalidade da protagonista e traçar certas constantes no mar de variáveis que é a película. Nesse sentido, características típicas da cinebiografia do cineasta tão logo saltam aos olhos, como o estilo visual influenciado por aspectos da arte kitsch, e a trilha melodramática. Contudo, ainda que tais elementos forneçam ao filme uma estética autoral, eles são concebidos ao léu em função do imbróglio narrativo que não consegue definir o que deve ser contado.
Posto isto, a guinada que o script exerce ao início do segundo ato é fundamental para manter o espectador instigado. É, sobretudo, uma virada que determina rumos imprevisíveis para a obra e enseja dilemas morais para Janis que realmente têm peso, pois, independente do que ela faça, haverá consequências. (SPOILERS A SEGUIR) No entanto, o arco perde o viço quando a urdidura o pretere para focar em um romance que surge de forma repentina e não possui embasamento. Nesse contexto, a relação entre Janis e Ana que até então havia sido trabalhada com paciência, sofre com a brusquidão do texto que tenta forçar um vínculo amoroso onde antes não havia qualquer fagulha de desejo. (FIM DOS SPOILERS)
Por sua vez, o plot de Ana é extremamente problemático. Embora a produção dedique momentos de realce para a personagem, a subtrama desta não progride individualmente, considerando que a sua inserção no entrecho acontece estritamente em função do núcleo da protagonista. Essa dependência que o arco de Ana apresenta revoga todas as suas cenas de destaque, pois elas não levam a lugar nenhum. O mesmo pode ser dito a respeito dos trechos solo que sua mãe possui, haja visto que a figura em questão é irrelevante para o desenvolvimento de Janis que, consequentemente, acaba por ser a foz de todos os meandros narrativos.
Diferentemente das personas supracitadas, Arturo é um semblante adjacente que funciona. Ao contrário do que ocorre com Ana, o coadjuvante não recebe ênfase individual, possibilitando que a sua utilização tenha como único intuito respaldar a evolução de Janis sem a pretensão de representar algo maior dentro da estória. Por outro lado, o namoro entre Arturo e a protagonista é afetado pelas avulsas idas e vindas, o que muitas vezes se dá por intermédio de saltos temporais que visam omitir de maneira tergiversatória a resolução de conflitos propostos pelo enredo. Ademais, vale ressaltar que o personagem é encarregado de liderar o arco envolvendo uma série de escavações, sendo que é possível traçar paralelo com o restante da trama apenas se o público estiver assiduamente empenhado em extrair algum tipo de reflexão nesse âmbito - em contraparte, será somente mais uma subtrama dispersa e irrelevante.
Por fim, Mães Paralelas é uma película inconsistente e confusa que não consegue se decidir sobre o que deseja falar.
Matheus J. S.
 
Assista e Kontamine-se
 
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Netflix): 18 de fevereiro de 2022
Direção: Pedro Almodóvar
Elenco: Penélope Cruz, Milena Smit, Israel Elejalde …
Gênero: Drama
Nacionalidade: Espanha

Sinopse (Filmow):
Em Madri, Espanha, duas mães dão à luz no mesmo dia. O longa segue suas vidas paralelas ao longo do primeiro e do segundo ano de criação dos filhos.

Avaliação:
IMDb: 7,1
Rotten: 97%
Metacritic: 87%
Filmow (média geral): 3,8
Kontaminantes (Matheus J. S.): 2,5
Avaliação


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