Pedro Almodóvar é
atualmente o diretor que melhor representa o cinema espanhol. Responsável por
obras icônicas, como Ata-me, A Pele que Habito e Tudo Sobre Minha Mãe, o
cineasta retorna à direção de um filme para contar a estória de duas mulheres
que se conhecem prestes a dar à luz. Entretanto, será que a empreitada é mais
um acerto na carreira de Almodóvar?
Em primeira
análise, Mães Paralelas é um projeto audiovisual que tenta abranger várias
tramas em um mesmo núcleo. Até os quarenta minutos de produção, que é quando o
longa arquiteta sua melhor manobra, o enredo é sobre o processo de maternidade
de uma mãe solteira. Apesar de não ser a vertente mais profícua do roteiro, esta
serve para inocular a forte personalidade da protagonista e traçar certas constantes
no mar de variáveis que é a película. Nesse sentido, características típicas da
cinebiografia do cineasta tão logo saltam aos olhos, como o estilo visual
influenciado por aspectos da arte kitsch, e a trilha melodramática. Contudo,
ainda que tais elementos forneçam ao filme uma estética autoral, eles são
concebidos ao léu em função do imbróglio narrativo que não consegue definir o
que deve ser contado.
Posto isto, a
guinada que o script exerce ao início do segundo ato é fundamental para
manter o espectador instigado. É, sobretudo, uma virada que determina rumos
imprevisíveis para a obra e enseja dilemas morais para Janis que realmente têm
peso, pois, independente do que ela faça, haverá consequências. (SPOILERS A SEGUIR) No entanto, o arco perde o viço
quando a urdidura o pretere para focar em um romance que surge de forma
repentina e não possui embasamento. Nesse contexto, a relação entre
Janis e Ana que até então havia sido trabalhada com paciência, sofre com a
brusquidão do texto que tenta forçar um vínculo amoroso onde antes não havia
qualquer fagulha de desejo. (FIM DOS SPOILERS)
Por sua vez, o plot
de Ana é extremamente problemático. Embora a produção dedique momentos de realce
para a personagem, a subtrama desta não progride individualmente, considerando
que a sua inserção no entrecho acontece estritamente em função do núcleo da
protagonista. Essa dependência que o arco de Ana apresenta revoga todas as suas
cenas de destaque, pois elas não levam a lugar nenhum. O mesmo pode ser dito a respeito dos trechos solo que sua mãe possui, haja visto que a figura em
questão é irrelevante para o desenvolvimento de Janis que, consequentemente,
acaba por ser a foz de todos os meandros narrativos.
Diferentemente das
personas supracitadas, Arturo é um semblante adjacente que funciona. Ao
contrário do que ocorre com Ana, o coadjuvante não recebe ênfase individual,
possibilitando que a sua utilização tenha como único intuito respaldar a
evolução de Janis sem a pretensão de representar algo maior dentro da estória. Por
outro lado, o namoro entre Arturo e a protagonista é afetado pelas avulsas idas
e vindas, o que muitas vezes se dá por intermédio de saltos temporais que visam
omitir de maneira tergiversatória a resolução de conflitos propostos pelo
enredo. Ademais, vale ressaltar que o personagem é encarregado de liderar o
arco envolvendo uma série de escavações, sendo que é possível traçar paralelo
com o restante da trama apenas se o público estiver assiduamente empenhado em extrair
algum tipo de reflexão nesse âmbito - em contraparte, será somente mais uma subtrama dispersa e irrelevante.
Por fim, Mães
Paralelas é uma película inconsistente e confusa que não consegue se decidir sobre
o que deseja falar.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de
lançamento (Netflix): 18 de fevereiro de 2022
Direção: Pedro Almodóvar
Elenco: Penélope
Cruz, Milena Smit, Israel Elejalde …
Gênero: Drama
Nacionalidade:
Espanha
Sinopse (Filmow):
Em Madri, Espanha, duas mães dão à luz no mesmo dia. O longa segue suas
vidas paralelas ao longo do primeiro e do segundo ano de criação dos filhos.
Avaliação:
IMDb: 7,1
Rotten: 97%
Metacritic: 87%
Filmow (média geral): 3,8
Kontaminantes (Matheus
J. S.): 2,5
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