Dentre os títulos internacionais lançados em 2021, Drive My Car, A Pior Pessoa do Mundo e Nitram se destacam como alguns dos principais nomes. Felizmente, Reze Pelas Mulheres Roubadas chega para incluir mais um longa na lista.

Em primeira análise, o filme estabelece, desde o princípio, que existe alguma coisa errada acontecendo na pequena cidade em que a trama se desenrola. Ainda que o espectador saiba que meninas estão sendo sequestradas, a película jamais define o destino delas, contudo, expõe o suficiente para deixar o público incomodado e divagando sobre as atrocidades que podem estar sendo impingidas às garotas. Nesse sentido, a falta de informações somado a não exibição dos rostos dos criminosos ao correr de praticamente todo o longa, enseja um vaticínio narrativo que eleva a tensão e deixa assistentes e personagens em estado de alerta o tempo inteiro.

Ao explorar a rotina de um aglomerado de pessoas vivendo sob constante terror, Reze Pelas Mulheres Roubadas atribui enfoque ao núcleo infantil desse povo. Dito isso, o realce às crianças se articula como meio de realçar as coisas belas que ainda existem naquele lugar, visto que as brincadeiras e a inocência dos pequenos são um frescor bem-vindo perante o drama enfrentado por todos. Essa vertente do entrecho também funciona como contraste da vida miserável que as próprias crianças levam, ou seja, muitas delas servem como mão-de-obra, não possuem um ensino de qualidade e são privadas de sua identidade, tanto fisicamente – como o corte de cabelo que as meninas são obrigadas a realizar – quanto simbolicamente, considerando que o tempo em que elas deveriam estar se divertindo, estão se escondendo ou labutando. Ademais, vale ressaltar que um dos meninos tem algumas cenas trabalhando, no entanto, a estória jamais se aprofunda no respectivo plot.

Para registrar o dia a dia dos seres humanos que protagonizam a obra, a diretora Tatiana Huezo emprega cortes secos e utiliza uma câmera manual que atribuem genuinidade aos eventos assistidos e imprimem um ar documental ao filme. Em consonância, o figurino composto por roupas sujas e rasgadas, e o design de produção marcado pela penúria de barracos precários que mal podem ser descritos como um lar, dão vida a um pequeno povoado de natureza frangível que molda o triste palco da realidade daquelas pessoas. É, sobretudo, uma comunidade vulnerável que vive oprimida pelo cartel, está cercada pela corrupção, teme ininterruptamente por suas mulheres e tampouco tem sinal para se comunicar com o mundo exterior, como é frisado ao longo dos trechos em que os personagens vão até um morro para efetuar chamadas.

Outrossim, o longa tem um salto de anos que não impacta negativamente a urdidura - como geralmente ocorre em títulos similares. A mudança de atriz para incorporar a Ana mais velha, diferentemente do que se sucede em Bar Doce Lar (recentemente comentado aqui), não afeta a personalidade da figura em questão e os conflitos que regem o seu cotidiano. Vale mencionar que a escolha da intérprete adolescente é acertadíssima, pois a atriz possui os fenótipos semelhantes aos da artista mirim, além da dinâmica com a mãe continuar a mesma. Desse modo, a relação da personagem com a filha, independente do tempo em que a narrativa está, sempre é acompanhada por muito amor e receios com a sua segurança. Nesse contexto, a trilha, bastante carregada para propiciar a apreensão vigente, ganha notoriedade, porém, são os momentos de silêncio que municiam sentimentos que não poderiam ser expressos por qualquer faixa.

Em síntese, Reze Pelas Mulheres Roubadas é uma obra poderosa que não deve ser perdida por qualquer cinéfilo.

Matheus J. S.

 

Assista e Kontamine-se

 

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Ficha Técnica:

Data de lançamento (Brasil): 18 de novembro de 2021

Direção: Tatiana Huezo

Elenco: Norma Pablo, Olivia Lagunas, Memo Villegas...

Gênero: Drama

Nacionalidade: México

Sinopse (Adoro Cinema):

Em uma cidade solitária situada nas montanhas mexicanas, três amigas ocupam as casas daqueles que fugiram e se vestem de mulheres quando ninguém está olhando. Enquanto magia e alegria abundam no próprio universo impenetrável delas, suas mães treinam as três garotas para se protegerem dos grupos de sequestradores que atuam na região.

Avaliação:

IMDb: 7,3

Rotten: 95%

Metacritic: 80%

Filmow (média geral): 3,8

Kontaminantes (Matheus J. S.): 9,5

Reze Pelas Mulheres Roubadas

Dentre os títulos internacionais lançados em 2021, Drive My Car, A Pior Pessoa do Mundo e Nitram se destacam como alguns dos principais nomes. Felizmente, Reze Pelas Mulheres Roubadas chega para incluir mais um longa na lista.

Em primeira análise, o filme estabelece, desde o princípio, que existe alguma coisa errada acontecendo na pequena cidade em que a trama se desenrola. Ainda que o espectador saiba que meninas estão sendo sequestradas, a película jamais define o destino delas, contudo, expõe o suficiente para deixar o público incomodado e divagando sobre as atrocidades que podem estar sendo impingidas às garotas. Nesse sentido, a falta de informações somado a não exibição dos rostos dos criminosos ao correr de praticamente todo o longa, enseja um vaticínio narrativo que eleva a tensão e deixa assistentes e personagens em estado de alerta o tempo inteiro.

Ao explorar a rotina de um aglomerado de pessoas vivendo sob constante terror, Reze Pelas Mulheres Roubadas atribui enfoque ao núcleo infantil desse povo. Dito isso, o realce às crianças se articula como meio de realçar as coisas belas que ainda existem naquele lugar, visto que as brincadeiras e a inocência dos pequenos são um frescor bem-vindo perante o drama enfrentado por todos. Essa vertente do entrecho também funciona como contraste da vida miserável que as próprias crianças levam, ou seja, muitas delas servem como mão-de-obra, não possuem um ensino de qualidade e são privadas de sua identidade, tanto fisicamente – como o corte de cabelo que as meninas são obrigadas a realizar – quanto simbolicamente, considerando que o tempo em que elas deveriam estar se divertindo, estão se escondendo ou labutando. Ademais, vale ressaltar que um dos meninos tem algumas cenas trabalhando, no entanto, a estória jamais se aprofunda no respectivo plot.

Para registrar o dia a dia dos seres humanos que protagonizam a obra, a diretora Tatiana Huezo emprega cortes secos e utiliza uma câmera manual que atribuem genuinidade aos eventos assistidos e imprimem um ar documental ao filme. Em consonância, o figurino composto por roupas sujas e rasgadas, e o design de produção marcado pela penúria de barracos precários que mal podem ser descritos como um lar, dão vida a um pequeno povoado de natureza frangível que molda o triste palco da realidade daquelas pessoas. É, sobretudo, uma comunidade vulnerável que vive oprimida pelo cartel, está cercada pela corrupção, teme ininterruptamente por suas mulheres e tampouco tem sinal para se comunicar com o mundo exterior, como é frisado ao longo dos trechos em que os personagens vão até um morro para efetuar chamadas.

Outrossim, o longa tem um salto de anos que não impacta negativamente a urdidura - como geralmente ocorre em títulos similares. A mudança de atriz para incorporar a Ana mais velha, diferentemente do que se sucede em Bar Doce Lar (recentemente comentado aqui), não afeta a personalidade da figura em questão e os conflitos que regem o seu cotidiano. Vale mencionar que a escolha da intérprete adolescente é acertadíssima, pois a atriz possui os fenótipos semelhantes aos da artista mirim, além da dinâmica com a mãe continuar a mesma. Desse modo, a relação da personagem com a filha, independente do tempo em que a narrativa está, sempre é acompanhada por muito amor e receios com a sua segurança. Nesse contexto, a trilha, bastante carregada para propiciar a apreensão vigente, ganha notoriedade, porém, são os momentos de silêncio que municiam sentimentos que não poderiam ser expressos por qualquer faixa.

Em síntese, Reze Pelas Mulheres Roubadas é uma obra poderosa que não deve ser perdida por qualquer cinéfilo.

Matheus J. S.

 

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Ficha Técnica:

Data de lançamento (Brasil): 18 de novembro de 2021

Direção: Tatiana Huezo

Elenco: Norma Pablo, Olivia Lagunas, Memo Villegas...

Gênero: Drama

Nacionalidade: México

Sinopse (Adoro Cinema):

Em uma cidade solitária situada nas montanhas mexicanas, três amigas ocupam as casas daqueles que fugiram e se vestem de mulheres quando ninguém está olhando. Enquanto magia e alegria abundam no próprio universo impenetrável delas, suas mães treinam as três garotas para se protegerem dos grupos de sequestradores que atuam na região.

Avaliação:

IMDb: 7,3

Rotten: 95%

Metacritic: 80%

Filmow (média geral): 3,8

Kontaminantes (Matheus J. S.): 9,5