Com o passar dos anos e as contínuas inaugurações de plataformas de
streaming, a quantidade de novas séries lançadas é praticamente imensurável.
Posto isto, encontrar um programa televisivo que consiga chamar a atenção por
conta da qualidade é incrivelmente desafiador. Felizmente, Euphoria é um desses
raros exemplares.
Em primeira análise, Euphoria é uma obra que se preocupa com a maneira
de contar sua estória. Dito isso, Sam Levinson (criador) brinca com as convenções
das séries de TV a fim de proporcionar entretenimento enquanto o enredo matura
os seus principais debates. Em outras palavras, o programa se apropria de uma
direção interativa que possibilita que o assistente veja o mundo da forma que
Rue o enxerga, fazendo com que os ambientes sejam moldados a partir da
perspectiva da jovem. Essa interação é fortificada com a quebra da quarta
parede e a narração em voice over que permitem que a protagonista se comunique
diretamente com o espectador, e o entrecho oriente o público em meio às várias
subtramas e personagens.
Somado aos elementos descritos, a narrativa vai e vem sem jamais
apresentar os acontecimentos em sua integridade. É, sobretudo, um modo
inventivo que Levinson utiliza para intrigar o assistente e posteriormente
surpreendê-lo com o restante do trecho omitido sem precisar recorrer a
ferramentas expositivas. Não obstante, parte do estilo do diretor se manifesta
por intermédio da trilha eclética - com faixas para todos os gostos - que dita
o tom das sequências de maior realce. No entanto, a transição de uma música à outra
de gêneros opostos ocorre, esporadicamente, de maneira demasiado brusca.
Ademais, vale ressaltar que Euphoria se caracteriza por uma abordagem cru e
explícita, o que, por um lado, reflete a audácia do roteiro, mas por outro
evidencia o exibicionismo exacerbado de seu criador; há uma gritante falta de
tato concernente às cenas de sexo que as faz se alongar muito mais que o necessário.
A sensibilidade com que a urdidura explora questões humanas estabelece
de imediato uma conexão sólida com os espectadores, ensejando, por conseguinte,
uma identificação com os distintos subnúcleos destrinchados. Temas como autoaceitação,
depressão, bullying, relacionamentos abusivos, gravidez na adolescência, masculinidade
tóxica, paradigmas sociais, anseios com o futuro, faculdade e, acima de tudo,
drogas, se aglutinam entre as pautas impostas. Nesse sentido, a série jamais
adota uma postura acusativa, prezando, em contraparte, um caráter que prima
pelo escrutínio do impacto que tais conflitos exercem sobre o cotidiano dos
personagens. Em face do exposto, o programa busca instrumentos variados para
intensificar o diálogo com a realidade do público, e a predominância da
internet é um desses.
Dentro desse contexto, o script utiliza os meios virtuais para
discutir a relação da tecnologia com a geração Z. Essa interação fornece um
reflexo autêntico de como as mídias sociais influenciam a vida de todos os seus
usuários. Os vazamentos de nudes e vídeos íntimos, constantemente frisados pelo
texto, se arquitetam como fatores determinantes para a concepção da imagem
desses indivíduos nas diferentes esferas da comunidade que eles integram. Por
sua vez, os sites de relacionamentos e o fácil acesso a filmes pornográficos
atribui aos jovens uma impressão falaz de como as coisas realmente são,
afetando, em decorrência, o comportamento e as expectativas de cada um.
Ademais, convém salientar que, apesar do escopo de semblantes adolescentes,
Euphoria não menospreza os seus adultos e enfatiza problemáticas atinentes a
essa faixa etária, destacando, também, as relações entre pais e filhos sob a ótica
de ambos os envolvidos.
Embora o roteiro demonstre versatilidade ao investigar pessoas de índole
e dilemas divergentes, nem todos os plots recebem o mesmo tratamento.
Isso fica evidente quando o arco do McKay está sob análise, ou seja, ainda que
o personagem tenha os seus conflitos pincelados, a trama não progride quanto ao
respectivo núcleo. Dessa forma, os impasses de sua jornada existem apenas para
os roteiristas poderem afirmar que a figura em questão foi sim explorada. Além,
o plot de McKay está entrelaçado ao de Cassie, o que faz,
essencialmente, que as suas participações ocorram muito mais em função do arco
da namorada do que em prol de seu próprio desenvolvimento.
No mais, Euphoria é uma série intensa, genuína e criativa que deixará a
todos esperando ansiosamente o lançamento de sua segunda temporada.
Matheus J. S.
Assista e
Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Primeiro episódio: 16 de junho de 2019
Criada por: Sam Levinson
Com: Zendaya, Hunter Schafer, Sydney Sweeney …
País: EUA
Gênero: Drama
Status: Renovada
Duração (aproximada): 54 - 61 minutos
Sinopse
(Filmow):
O dia-a-dia de um grupo de
estudantes do ensino médio, a medida que eles exploram novos amores e amizades
em um mundo de sexo, drogas, traumas e mídias sociais.
Avaliação (1ª Temporada):
IMDb (2019- ): 8,4
Rotten: 80%
Metacritic: 68%
Filmow (média geral):
4,4
Adoro Cinema
(usuários): 3,6
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
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