Asghar Farhadi é o principal nome do cinema iraniano. Após conquistar um
Oscar por A Separação e mais recentemente outro por O Apartamento, o diretor
retorna aos holofotes da indústria com Um Herói, longa que já levou o Grand
Prix no Festival de Cannes de 2021 e chega como um dos favoritos a levar o
Oscar de Melhor Filme Estrangeiro esse ano.
Introdutoriamente, o primeiro ato pode fazer com que parte do público se
prive de acompanhar o inteligente texto prestes a deslanchar. Em outras
palavras, até o início do segundo ato são apresentados muitos semblantes e há
diversas situações acontecendo, o que, a princípio, pode gerar confusão e
estimular algum espectador mais ansioso a desistir da obra. Ainda que posteriormente
as peças se encaixem e cada personagem tenha sua importância revelada, falta a
inserção de um elemento que capte instantaneamente a atenção do assistente. No
entanto, quando a película desabrocha a experiência vale cada segundo.
Nesse sentido, o roteiro se apropria de uma circunstância aparentemente ordinária
para desenvolver dilemas morais. A forma natural que a estória cresce e passa a
afetar pessoas e entidades diferentes é de uma complexidade imensa que toda
nova atitude desencadeia uma série de ações ainda mais herméticas. Não há
resoluções fáceis à vista, e a ausência de mocinhos e vilões possibilita que o script
trabalhe todos os lados de modo humano, assim permitindo que o público
compreenda os atos e motivações de cada um dos componentes dessa intrincada
equação. Por conseguinte, a construção de um protagonista de personalidade
dúbia é fundamental para o enredo pôr em xeque as crenças do espectador e
sustentar as dúvidas pertinentes a eventos que não são mostrados, mas apenas
contados.
Outrossim, cabe mencionar que uma criança, bastante recorrente ao longo
da urdidura, poderia facilmente ser usada como recurso de coerção emocional,
contudo, ela se transforma em uma ferramenta de manipulação nas mãos dos
próprios indivíduos em cena. Esse pequeno detalhe mostra o quão hábil o texto é
ao subverter a posição de um componente narrativo que em qualquer outra
produção seria utilizado como forma de extrair lágrimas do assistente. Ademais,
o menino igualmente serve como intermediário para o entrecho maturar a ética de
suas personas, além de ter o próprio arco sutilmente trabalhado, mas em escala
suficiente para o público sentir a aflição de uma criança que só quer ter o pai
consigo.
Sobretudo, a cinematografia, a trilha e a direção do filme são muito
simples. O figurino e o design de produção, por sua vez, são
responsáveis por transmitir a simplicidade da moradia e dos locais pelos quais
as figuras em tela passam. Tais aspectos, ao contrário do que se pode pensar, são
essenciais para engendrar uma atmosfera casual e permitir que o espectador se
identifique com as situações assistidas, afinal, o que acontece com os
personagens também pode ocorrer com qualquer um. Posto isto, a modéstia dos
fatores supracitados é mais um traço que torna o roteiro tão poderoso, pois, ao
passo que a estética do longa não chama tanta atenção primordialmente, o texto endossa
o respectivo encargo.
No mais, Um Herói é uma obra mordaz e desafiadora que exige tanto de
seus personagens quanto de seus assistentes.
Matheus J. S.
Assista e
Kontamine-se
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Ficha
Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 03 de março de 2022
Direção: Asghar Farhadi
Elenco: Amir Jadidi, Mohsen Tanabandeh,
Fereshteh Sadre Orafaee …
Gênero: Drama
Nacionalidade: Irã
Sinopse
(Filmow):
Rahim está na prisão
devido a uma dívida que não pôde pagar. Durante uma licença de dois dias, ele
tenta convencer o seu credor a retirar a sua queixa contra o pagamento de parte
da soma. Mas as coisas não correm de acordo com o plano.
Avaliação:
IMDb: 7,4
Rotten: 96%
Metacritic: 82%
Filmow (média geral):
4,1
Adoro Cinema (adorocinema):
4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9,5
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