Pouco antes do lançamento de Red Rocket que acompanha um veterano da indústria de filmes adultos querendo voltar para o ramo, estreou, também pela A24, Pleasure, longa de Ninja Thyberg que segue uma jovem sueca tentando despontar como uma estrela pornô. Diferentemente da produção de Sean Baker, a diretora opta por uma abordagem mais plangente para contar sua estória.

Em primeira análise, Pleasure é uma obra extremamente incômoda. As sequências praticamente explícitas e o destaque de uma jovem moça em meio às sórdidas cenas que ela precisa filmar são elementos que logo de cara causam repulsa ao público. Nesse sentido, não há glamourização da indústria pornográfica ou meios para estilizar o sexo, muito pelo contrário, a película prioriza uma abordagem despojada que não omite a faceta mais suja e nojenta do respectivo âmbito. Vale ressaltar que a naturalidade com que os produtores e integrantes da equipe técnica lidam com o trabalho é chocante, expondo ângulos além da tela que são impensáveis para os consumidores desse tipo de conteúdo.

Ainda que o primeiro ato tenha alguns trechos inquietantes, este é o mais sutil devido às constantes afirmações que a protagonista faz a si mesma de que ela realmente quer estar fazendo aquilo. Dito isso, tais blocos podem até transmitir uma impressão falaz acerca do modo que a empreitada será tratada, porém, o filme posteriormente se revela. Essa guinada no roteiro acontece por meio de um segmento executado da forma mais tensa possível, o que é acentuado pela direção de Thyberg ao construir uma atmosfera enervante baseada em imagens desfocadas, vários cortes e sons aflitivos que são mais que suficientes para desestabilizar qualquer espectador. Logo, mesmo que a passagem seja propositalmente angustiante, o seu impacto é deixado ao léu em função das digressões acometidas sobre o arco de Bella.

Posto isto, o fato de as motivações da personagem não serem exploradas afeta o caminhar do entrecho. Em outras palavras, nunca fica claro o que a impulsiona, e a ausência de uma justificativa plausível compromete a capacidade dos assistentes comprarem a ideia dos absurdos pelos quais ela voluntariamente se submete. Esse fator enseja um ciclo vicioso na vida da protagonista que, consequentemente, faz com que a trama se torne repetitiva. De similar maneira, Ava possui bastante realce na urdidura, contudo, como a coadjuvante está intrinsecamente vinculada aos enevoados incentivos de Bella, sua presença ganha um ar enfadonho. Ademais, os demais semblantes secundários, especialmente aqueles relacionados ao círculo de amizades da figura central, quebram o ritmo que a narrativa busca inocular sem acrescentar algo válido ao escopo do texto. A exceção diz respeito a um colega de trabalho que serve para o filme apresentar como os efeitos da labuta igualmente incidem sobre os homens.

Por fim, a trilha e a interpretação de Sofia Kappel merecem nota. As faixas de trap escolhidas são genéricas e remetem ao estilo empregado em videoclipes; não é inédito, mas funciona. Convém frisar que esporadicamente são utilizadas músicas mais carregadas, que também operam com eficiência ao dialogar com as circunstâncias em tela. Por sua vez, a atuação de Kappel expressa muita coragem, ou seja, não é fácil encarar todas as situações humilhantes pelas quais a sua persona passa. Logo, a atriz enfrenta com confiança os estágios que o papel exige, desde os momentos em que se é requerido demonstrações de tenacidade, até as mais difíceis cenas em que ela manifesta desconforto e aversão ao que lhe aflige. Cabe salientar, sobretudo, que Sofia contracena com atores profissionais do ramo em questão, o que é, indubitavelmente, um desafio a mais para a performance.

Em suma, Pleasure tem boas ideias e trabalha de forma impudica um tabu social, no entanto, os relapsos concernentes ao desenvolvimento pessoal da protagonista impedem que a produção angarie maiores lauréis.

Matheus J. S.

 

Assista e Kontamine-se

 

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Ficha Técnica:

Data de lançamento (Sundance): 01 de fevereiro de 2021

Direção: Ninja Thyberg

Elenco: Sofia Kappel, Chris Cock, Dana DeArmond…

Gênero: Drama

Nacionalidade: Suécia

Sinopse (Filmow):

Uma garota sueca de 20 anos tenta ser uma estrela pornô em Los Angeles.

Avaliação:

IMDb: 6,4

Rotten: 89%

Metacritic: 74%

Filmow (média geral): 3,3

Kontaminantes (Matheus J. S.): 7

Pleasure

Pouco antes do lançamento de Red Rocket que acompanha um veterano da indústria de filmes adultos querendo voltar para o ramo, estreou, também pela A24, Pleasure, longa de Ninja Thyberg que segue uma jovem sueca tentando despontar como uma estrela pornô. Diferentemente da produção de Sean Baker, a diretora opta por uma abordagem mais plangente para contar sua estória.

Em primeira análise, Pleasure é uma obra extremamente incômoda. As sequências praticamente explícitas e o destaque de uma jovem moça em meio às sórdidas cenas que ela precisa filmar são elementos que logo de cara causam repulsa ao público. Nesse sentido, não há glamourização da indústria pornográfica ou meios para estilizar o sexo, muito pelo contrário, a película prioriza uma abordagem despojada que não omite a faceta mais suja e nojenta do respectivo âmbito. Vale ressaltar que a naturalidade com que os produtores e integrantes da equipe técnica lidam com o trabalho é chocante, expondo ângulos além da tela que são impensáveis para os consumidores desse tipo de conteúdo.

Ainda que o primeiro ato tenha alguns trechos inquietantes, este é o mais sutil devido às constantes afirmações que a protagonista faz a si mesma de que ela realmente quer estar fazendo aquilo. Dito isso, tais blocos podem até transmitir uma impressão falaz acerca do modo que a empreitada será tratada, porém, o filme posteriormente se revela. Essa guinada no roteiro acontece por meio de um segmento executado da forma mais tensa possível, o que é acentuado pela direção de Thyberg ao construir uma atmosfera enervante baseada em imagens desfocadas, vários cortes e sons aflitivos que são mais que suficientes para desestabilizar qualquer espectador. Logo, mesmo que a passagem seja propositalmente angustiante, o seu impacto é deixado ao léu em função das digressões acometidas sobre o arco de Bella.

Posto isto, o fato de as motivações da personagem não serem exploradas afeta o caminhar do entrecho. Em outras palavras, nunca fica claro o que a impulsiona, e a ausência de uma justificativa plausível compromete a capacidade dos assistentes comprarem a ideia dos absurdos pelos quais ela voluntariamente se submete. Esse fator enseja um ciclo vicioso na vida da protagonista que, consequentemente, faz com que a trama se torne repetitiva. De similar maneira, Ava possui bastante realce na urdidura, contudo, como a coadjuvante está intrinsecamente vinculada aos enevoados incentivos de Bella, sua presença ganha um ar enfadonho. Ademais, os demais semblantes secundários, especialmente aqueles relacionados ao círculo de amizades da figura central, quebram o ritmo que a narrativa busca inocular sem acrescentar algo válido ao escopo do texto. A exceção diz respeito a um colega de trabalho que serve para o filme apresentar como os efeitos da labuta igualmente incidem sobre os homens.

Por fim, a trilha e a interpretação de Sofia Kappel merecem nota. As faixas de trap escolhidas são genéricas e remetem ao estilo empregado em videoclipes; não é inédito, mas funciona. Convém frisar que esporadicamente são utilizadas músicas mais carregadas, que também operam com eficiência ao dialogar com as circunstâncias em tela. Por sua vez, a atuação de Kappel expressa muita coragem, ou seja, não é fácil encarar todas as situações humilhantes pelas quais a sua persona passa. Logo, a atriz enfrenta com confiança os estágios que o papel exige, desde os momentos em que se é requerido demonstrações de tenacidade, até as mais difíceis cenas em que ela manifesta desconforto e aversão ao que lhe aflige. Cabe salientar, sobretudo, que Sofia contracena com atores profissionais do ramo em questão, o que é, indubitavelmente, um desafio a mais para a performance.

Em suma, Pleasure tem boas ideias e trabalha de forma impudica um tabu social, no entanto, os relapsos concernentes ao desenvolvimento pessoal da protagonista impedem que a produção angarie maiores lauréis.

Matheus J. S.

 

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Ficha Técnica:

Data de lançamento (Sundance): 01 de fevereiro de 2021

Direção: Ninja Thyberg

Elenco: Sofia Kappel, Chris Cock, Dana DeArmond…

Gênero: Drama

Nacionalidade: Suécia

Sinopse (Filmow):

Uma garota sueca de 20 anos tenta ser uma estrela pornô em Los Angeles.

Avaliação:

IMDb: 6,4

Rotten: 89%

Metacritic: 74%

Filmow (média geral): 3,3

Kontaminantes (Matheus J. S.): 7