Prestigiado em
Cannes e amplamente ovacionado pelos veículos de crítica após exibições em
festivais, A Pior Pessoa do Mundo é o filme encarregado de encerrar a Trilogia
de Oslo dirigida por Joachim Trier. Antecipadamente, destaco que a produção
cumpre o seu papel com primor.
Em primeira
análise, este é um longa que de imediato apregoa suas características. Os
primeiros minutos, extremamente enérgicos, apresentam uma direção ardorosa que interage
a todo instante com o espectador e torna a experiência narrativamente imersiva.
Esse frenesi incipiente também dialoga com o caráter da protagonista e o seu
ritmo de vida, fornecendo, de antemão, um vislumbre da abordagem escolhida por
Trier que irá viger durante toda a obra. Logo, urge que se estabeleça um forte
laço entre os assistentes e a personagem central.
Posto isto, o
diretor constantemente coloca o público sob a perspectiva de Julie para que
este possa ver o mundo da forma que ela o enxerga. Além de ser um recurso que a
película utiliza para estar sempre se reinventando, Joachim descontrói os
padrões diegéticos da narrativa e cria sequências praticamente oníricas que são
curiosas de se acompanhar. Vale salientar que a pontualidade com que estas
cenas ocorrem enaltece sua eficiência. Ademais, a humanidade que o roteiro
emprega sobre a personagem é um elemento crucial para solidificar o
envolvimento dos espectadores com Julie.
Nesse sentido, A
Pior Pessoa do Mundo é um filme sobre as vicissitudes da vida. Desse modo, os
assistentes facilmente se identificam com a protagonista devido à
verossimilhança que os acontecimentos se articulam em sua rotina. Assim, o script
explora a imprevisibilidade do dia a dia de Julie sem julgamentos ou acusações,
traçando o retrato fiel de como as pessoas podem tomar decisões diferentes,
trocar de carreira, mudar de parceiro e, essencialmente, mostrar que não há
problema algum com isso. É uma incessante jornada de autoconhecimento,
redescobertas, incertezas e vulnerabilidades, mas, acima de tudo, uma jornada
do que é ser humano.
A concepção dos
rostos periféricos é igualmente fundamental para a trajetória da personagem.
Dito isso, os coadjuvantes têm personalidades bem definidas, o que lhes atribui
camadas e possibilita que o entrecho pincele pequenos debates a respeito de
arte, mudanças tecnológicas e culturais, objetivos de vida, sexo, filhos e tabus
sociais. O carisma de Aksel e Eivind, por sua vez, permite que o público seja
contagiado por ambas as figuras, o que faz com que este se martirize todas as
vezes que Julie troca de par romântico.
Por fim, a
performance de Renate Reinsve é assombrosa. A atriz demonstra muito conforto no
papel e transita com versatilidade pelas diversas nuances de sua persona. É uma
atuação marcada por polos emocionais em uma mesma cena, sempre em harmonia com
a amálgama de tons do texto. Dessa maneira, o trabalho de expressividades da intérprete
expressa sua dubiez idiossincrática, o que inutiliza uma narração em voice over
expositiva e que se repete em pontos já esclarecidos ou que deveriam permanecer
em território ambivalente.
Portanto, A Pior
Pessoa do Mundo é uma obra humana, tocante, intensa e criativa que equilibra
suas distintas abordagens tonais e finaliza com propriedade a Trilogia de Oslo de
Joachim Trier.
Matheus J. S.
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Ficha
Técnica:
Data de
lançamento (mundial): 09 de julho de 2021
Direção: Joachim
Trier
Elenco: Renate
Reinsve, Anders Danielsen Lie, Herbert Nordrum...
Gênero: Drama
Nacionalidade: Noruega
Sinopse:
The Worst Person in the World traça um recorte da vida de Julie.
Avaliação:
IMDb: 8,1
Rotten: 100%
Metacritic: 88%
Filmow (média geral): 4,2
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 9,5
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