Iniciar a carreira como diretor não é uma tarefa simples. Maggie Gyllenhaal, que
ornamentou o seu nome com uma cinebiografia de sucesso como atriz, decidiu se
aventurar pela respectiva empreitada. Nesse sentido, além de toda a pressão que
o cargo de supervisionar uma produção audiovisual implica, a fama que a
cineasta construiu ao longo dos anos é um fator adicional para a criação de
expectativas em torno de seu primeiro trabalho como diretora. No entanto, é possível
afirmar de antemão que o resultado não irá frustrar ninguém.
Introdutoriamente, A Filha Perdida é um filme introspectivo. Dito isso,
o público é convidado a acompanhar integralmente a jornada de Leda, o que é feito
por intermédio de uma câmera que se mantém próximo da personagem. Esse estilo
de filmagem permite que a diretora expresse os sentimentos da protagonista sem
precisar recorrer a ferramentas verborreicas. Isto é, quando Leda se encontra
em uma situação que serve de gatilho para suas memórias, a câmera fixa em seu
rosto e evoca uma esmagadora sensação claustrofóbica que exprime o quão
angustiante aquele momento está sendo. Por outro lado, a utilização de planos
abertos fornece os respiros que a narrativa anseia e transmite a serenidade instantânea
da personagem.
A trajetória intimista de Leda também é marcada pela sutileza dos
detalhes que a compõem. Desde o princípio o espectador percebe que tem algo
errado com esta, o que é constatado a partir das reações que a protagonista
esboça perante determinadas circunstâncias. Posto isto, é comum que o
assistente se indague acerca dos motivos de tal comportamento, além de se
questionar a respeito do significado de certos objetos na trama. Essas
perguntas caminham junto ao público e são respondidas de modo gradual, fazendo
com que o enredo subverta as expectações e se revele muito mais humano do que o
imaginado.
Destarte, a sensibilidade do entrecho possibilita que temas comuns ao
espectador sejam abordados, tais como culpa, mágoa, maternidade e a chegada dos
filhos ainda na juventude. Essas pautas são desenvolvidas com o auxílio do uso
de flashbacks que traçam paralelo entre os eventos no tempo atual e
aqueles que ocorreram anos atrás. Contudo, a frequente inserção do recurso
mencionado se torna intrusiva quando ele deixa de ser um instrumento de orientação
e passa a ser o foco principal da narrativa. De maneira similar, o script
é evasivo quanto à concepção de alguns dos coadjuvantes e os seus respectivos núcleos,
visto que as suas participações são avulsas e a falta de definição quanto à abordagem
dos arcos cria subtramas desnecessárias.
Por fim, as atuações merecem nota. Olivia Colman, mais uma vez cotada
para os prêmios da temporada, transmite com genuinidade as aflições de uma
mulher reprimida; é uma interpretação pontuada pela volatilidade emocional que
se manifesta por meio de sutis mudanças de humor, mas que comunicam em escala
monumental. Por sua vez, Jessie Buckley tem uma performance mais expansiva, porém tão
poderosa quanto; a vida sufocante que a personagem leva é projetada através de
uma personalidade instável que clama libertação.
Em síntese, A Filha Perdida peca na construção dos elementos adjacentes
que contribuem para a jornada central de sua protagonista. No entanto, o
impacto causado pelos debates propostos e a argúcia com que eles são tratados
fazem com que os futuros trabalhos de Maggie Gyllenhaal como diretora mereçam atenção.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
Comente, Compartilhe e Siga Nosso
Blog
Ficha Técnica:
Data de lançamento (Netflix): 31 de dezembro de 2021
Direção: Maggie Gyllenhaal
Elenco: Olivia Colman, Jessie Buckley, Dakota Johnson...
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA e Grécia
Sinopse (Netflix):
As férias pacatas de uma
mulher à beira-mar mudam de rumo quando sua obsessão por uma jovem mãe
hospedada nas proximidades traz à tona antigas lembranças.
Avaliação:
IMDb: 6,9
Rotten: 96%
Metacritic: 85%
Filmow (média geral): 3,7
Adoro Cinema (usuários): 3,3
Kontaminantes (Matheus J. S.): 8,5
Nenhum comentário:
Postar um comentário