2 de janeiro de 2022

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A Filha Perdida

Pôster

Iniciar a carreira como diretor não é uma tarefa simples. Maggie Gyllenhaal, que ornamentou o seu nome com uma cinebiografia de sucesso como atriz, decidiu se aventurar pela respectiva empreitada. Nesse sentido, além de toda a pressão que o cargo de supervisionar uma produção audiovisual implica, a fama que a cineasta construiu ao longo dos anos é um fator adicional para a criação de expectativas em torno de seu primeiro trabalho como diretora. No entanto, é possível afirmar de antemão que o resultado não irá frustrar ninguém.
Introdutoriamente, A Filha Perdida é um filme introspectivo. Dito isso, o público é convidado a acompanhar integralmente a jornada de Leda, o que é feito por intermédio de uma câmera que se mantém próximo da personagem. Esse estilo de filmagem permite que a diretora expresse os sentimentos da protagonista sem precisar recorrer a ferramentas verborreicas. Isto é, quando Leda se encontra em uma situação que serve de gatilho para suas memórias, a câmera fixa em seu rosto e evoca uma esmagadora sensação claustrofóbica que exprime o quão angustiante aquele momento está sendo. Por outro lado, a utilização de planos abertos fornece os respiros que a narrativa anseia e transmite a serenidade instantânea da personagem.
A trajetória intimista de Leda também é marcada pela sutileza dos detalhes que a compõem. Desde o princípio o espectador percebe que tem algo errado com esta, o que é constatado a partir das reações que a protagonista esboça perante determinadas circunstâncias. Posto isto, é comum que o assistente se indague acerca dos motivos de tal comportamento, além de se questionar a respeito do significado de certos objetos na trama. Essas perguntas caminham junto ao público e são respondidas de modo gradual, fazendo com que o enredo subverta as expectações e se revele muito mais humano do que o imaginado.
Destarte, a sensibilidade do entrecho possibilita que temas comuns ao espectador sejam abordados, tais como culpa, mágoa, maternidade e a chegada dos filhos ainda na juventude. Essas pautas são desenvolvidas com o auxílio do uso de flashbacks que traçam paralelo entre os eventos no tempo atual e aqueles que ocorreram anos atrás. Contudo, a frequente inserção do recurso mencionado se torna intrusiva quando ele deixa de ser um instrumento de orientação e passa a ser o foco principal da narrativa. De maneira similar, o script é evasivo quanto à concepção de alguns dos coadjuvantes e os seus respectivos núcleos, visto que as suas participações são avulsas e a falta de definição quanto à abordagem dos arcos cria subtramas desnecessárias.
Por fim, as atuações merecem nota. Olivia Colman, mais uma vez cotada para os prêmios da temporada, transmite com genuinidade as aflições de uma mulher reprimida; é uma interpretação pontuada pela volatilidade emocional que se manifesta por meio de sutis mudanças de humor, mas que comunicam em escala monumental. Por sua vez, Jessie Buckley tem uma performance mais expansiva, porém tão poderosa quanto; a vida sufocante que a personagem leva é projetada através de uma personalidade instável que clama libertação.
Em síntese, A Filha Perdida peca na construção dos elementos adjacentes que contribuem para a jornada central de sua protagonista. No entanto, o impacto causado pelos debates propostos e a argúcia com que eles são tratados fazem com que os futuros trabalhos de Maggie Gyllenhaal como diretora mereçam atenção.
Matheus J. S.
 
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Netflix): 31 de dezembro de 2021
Direção: Maggie Gyllenhaal
Elenco: Olivia Colman, Jessie Buckley, Dakota Johnson...
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA e Grécia

Sinopse (Netflix):
As férias pacatas de uma mulher à beira-mar mudam de rumo quando sua obsessão por uma jovem mãe hospedada nas proximidades traz à tona antigas lembranças.

Avaliação:
IMDb: 6,9
Rotten: 96%
Metacritic: 85%
Filmow (média geral): 3,7
Adoro Cinema (usuários): 3,3
Kontaminantes (Matheus J. S.): 8,5
Avaliação


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