Dentre os lançamentos de destaque da Netflix durante o ano passado
visando a temporada de premiações, Tick, Tick... Boom! e Não Olhe Para Cima são
dois títulos fortes que disputam troféus importantes nesse início de 2022.
Identidade, que chegou ao streaming pouco tempo antes, também tem
conquistado algumas nomeações, contudo, sem qualquer justificativa plausível.
Primariamente, Identidade é um imbróglio diegético. O que começa como
uma estória sobre racismo, toma rumos meandrantes que culminam em um cafona
triângulo amoroso. A própria premissa, que fala de uma mulher negra que se
passa por branca, é deixada de lado e não repercute no enredo. Isso acontece
por conta da forma negligente que o roteiro conduz Clare, visto que a
personagem entra e sai da narrativa a esmo e não tem as motivações
esclarecidas. De similar modo, o passado enigmático que a mulher possui com
Irene jamais é revelado, o que é utilizado como ferramenta para o script
manter o público “engajado”. Logo, a ausência de respostas não seria um
problema se o longa fornecesse suficiente miolo para respaldar a relação das
duas no presente e não usasse tais incógnitas como meio de manipulação para
prender o espectador em uma trama vazia.
Outrossim, as questões vinculadas ao racismo são majoritariamente inoculadas
por meio de diálogos rasos. Nesse sentido, os personagens são compelidos a
dizer coisas que não seriam ditas em uma conversa de fluxo natural, ou seja, as
figuras em tela são enquadradas em estereótipos baratos somente para replicar
as falas exigidas pelo texto. Dito isso, é patente que há inúmeras outras maneiras
de expor a personalidade preconceituosa de um indivíduo, mas a urdidura opta
pela mais fácil ao simplesmente colocar uma pessoa tagarelando a respeito do
quão repulsivo os negros são. Por outro lado, a película demonstra eficiência na
concepção dialógica que envolve Brian e Irene tratando acerca do que pode e não
pode ser explicado aos filhos sobre racismo. Diferentemente dos demais palratórios, esses
funcionam porque servem para apresentar as divergências de pensamento do casal
e surgem de forma orgânica enquanto eles papeiam assuntos diversos.
Atinente à relação envolvendo as protagonistas, o filme trabalha esse
laço de modo superficial e demasiado ríspido. Em outras palavras, grande parte
do primeiro ato é dedicado a um encontro fortuito entre as duas que, por sua
vez, se alonga em pautas banais e não progride no que se refere aos temas
verdadeiramente relevantes concernentes aos aspectos idiossincráticos de cada
uma e o passado que compartilharam juntas; é arrastado e prolixo. A brusquidão mencionada
que o roteiro emprega é pertinente às reuniões seguintes que Irene e Clare
exercem, pois estas buscam imprimir uma sensação de familiaridade que não foi
desenvolvida com antecedência. O mesmo pode ser dito acerca do relacionamento
entre Clare e Brian que se inicia de maneira pouco amigável e, repentinamente,
ganha nuances mais íntimas.
Sobretudo, a escolha por uma fotografia em preto e branco e o formato de
tela 4:3 são meros caprichos da direção. Apesar de tais características
atribuírem ao longa uma roupagem mais antiga, esse argumento pode ser utilizado
como indulto para a filáucia da diretora na procura de recursos que tornem a
película mais interessante do que realmente é. Todavia, vale frisar que o
figurino e o design de produção são autenticamente virtuosos ao
transmitir toda a pompa dos prósperos anos incipientes da década de 20 nos
Estados Unidos.
Em linhas gerais, Identidade carece de um foco narrativo, é bagunçado,
presunçoso e funciona apenas como poderoso sonífero.
Matheus J. S.
Assista e
Kontamine-se
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Ficha
Técnica:
Data de lançamento (Netflix): 10 de novembro de
2021
Direção: Rebecca Hall
Elenco: Tessa Thompson, Ruth Negga, Andre
Holland…
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA
Sinopse
(Netflix):
Na Nova York dos anos
1920, uma mulher negra vê seu mundo virar de cabeça para baixo depois de se
envolver com uma amiga de infância que finge ser branca.
Avaliação:
IMDb: 6,7
Rotten: 90%
Metacritic: 85%
Filmow (média geral):
3,4
Adoro Cinema
(usuários): 3,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 1,5
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