William Shakespeare é considerado um dos maiores
dramaturgos da História. Dentre as peças que o egrégio artista escreveu, se
destacam Romeu e Julieta, Hamlet e Macbeth, este último sendo o tema da
presente análise. Posto isto, a tragédia sobre um regicida e as consequências
de seus atos já foi incontáveis vezes adaptada para o cinema, com versões
dirigidas por reputados cineastas, tais como Orson Welles, Roman Polanski e Akira
Kurosawa. Esta semana, no entanto, chegou ao Apple TV+ a mais recente adaptação
da peça, desta vez sob o comando de Joel Coen.
Primeiramente, convém salientar que, em face do
exposto, A Tragédia de Macbeth possui muitos elementos teatrais. Esse caráter
do longa pode gerar um estranhamento inicial no público, mas é exatamente esse
tipo de peculiaridade que torna a obra eminente. Há muitos monólogos e
recitações, muitas vezes até com rimas, e os diálogos - marcados pela frequência
de palavras rebuscadas - acontecem de forma lírica revestidos por emoções
inflamadas que estabelecem com clareza o que os personagens estão sentindo. As
atuações, de similar modo, carregam a dramaturgia inerente ao texto original,
no entanto, devido às performances serem pontuadas por exageros, o elenco nem
sempre é capaz de cadenciar as reações exacerbadas de seus papeis. Ademais, algumas
falas são preguiçosamente expostas e não possuem o requinte característico
dos demais palratórios.
Por outro lado, o diretor utiliza o máximo de
recursos à sua disposição para instituir a personalidade fílmica da produção. Para
tal, Coen demonstra preferência pelo uso de planos gerais para enfatizar pontos
de vista que não seriam possíveis em uma peça de teatro. O mesmo pode ser dito
acerca da recorrência de ângulos insólitos que, acima de tudo, buscam imprimir
a identidade audiovisual do filme. A película também apresenta uma iluminação
que serve para expressar visualmente aspectos implícitos do entrecho. Dessa
maneira, o semblante de Macbeth está quase sempre dividido por luzes e trevas
como forma de expor a dualidade do personagem, enquanto a sua introdução nas
cenas geralmente ocorre saindo de uma penumbra com o intuito de realçar a
natureza sombria do indivíduo em questão.
Concernente aos cenários, estes, apesar de simples, despertam
sensações oníricas. Dentro desse contexto, a presença de brumas e criaturas fantásticas
atribuem ao longa um tom surreal que evoca traços do expressionismo alemão. Nesse
sentido, a escolha por uma fotografia em preto e branco, mais do que um simples
adereço artístico, reitera a impressão de que esta é uma obra feita em tempos
remotos. Dessarte, a predileção por cores possibilita que sejam engendradas,
com o auxílio da cenografia e da iluminação, imagens belíssimas que poderiam
facilmente ser emolduradas. Outra ferramenta que deve ser frisada é o som,
visto que este, concebido à base de retumbantes batidas cacofônicas, é um dos
principais meios para salientar o desconforto crescente do protagonista ao correr
da trama.
Em linhas gerais, A Tragédia de Macbeth é um filme
autoral e esteticamente caprichoso que reverencia a dramaturgia da obra
original ao passo que firma sua autenticidade cinematográfica.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
Comente, Compartilhe e Siga Nosso
Blog
Ficha
Técnica:
Data de
lançamento (Apple TV+): 14 de janeiro de 2022
Direção: Joel
Coen
Elenco: Denzel
Washington, Frances McDormand, Alex Hassell...
Gênero: Drama
Nacionalidade:
EUA
Sinopse (Adoro Cinema):
Baseado na peça trágica de William Shakespeare, a nova adaptação de A
Tragédia de Macbeth segue a história do lorde Macbeth ao voltar de uma guerra.
No meio do caminho, três bruxas o abordam e falam sobre sua visão de que ele
será o próximo rei da Escócia.
Avaliação:
IMDb: 7,5
Rotten: 93%
Metacritic: 87%
Filmow (média geral): 3,8
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 9
Nenhum comentário:
Postar um comentário