2021 foi um ano em
que as animações ficaram divididas. Luca e Encanto, apesar de ovacionados pelo
público, não conseguiram fugir das obviedades do gênero, enquanto Flee e Raya e o Último Dragão obtiveram muito mais sucesso nesse quesito. Nesse sentido, A
Família Mitchell e a Revolta das Máquinas é, felizmente, um filme que chegou à
Netflix em abril para agregar o lado auspicioso da safra.
Introdutoriamente, esta é uma película extravagante. Essa característica é apregoada por meio do estilo
escolhido pelos diretores para conduzir a trama. Em outras palavras, a edição é
efusiva e encarregada de brincar frequentemente com a introdução de trechos de
vídeos, fotos e até memes para traçar paralelo com as circunstâncias em tela. Embora
em outras produções esse elemento pudesse ser interpretado como um óbice narrativo,
aqui a extroversão da montagem faz parte da personalidade de seus criadores e
auxilia os demais recursos utilizados.
Dentre esses,
pode-se citar, especialmente, a hegemonia de adereços visuais - como emojis,
ideogramas e pictogramas - para projetar as emoções dos personagens e
estabelecer o tom entusiástico do enredo. A animação, sobretudo, é assaz
colorida, e a aspersão de detalhes e cores que preenchem as cenas criam
segmentos onde se é impossível distinguir tudo o que está na tela; o ritmo é
acelerado e há sempre muitas coisas acontecendo simultaneamente. Tais traços
conferem ao longa um caráter turbulento que dialoga com a intensidade hodierna
do século XXI, afinal, A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas é um filme
feito para os dias atuais.
Posto isto, um dos
debates que a película propõe é a respeito do choque de gerações. Ainda que não
seja o foco da obra, tal discussão é amplificada e consegue pautar a imane
dependência que as pessoas têm da internet e dos aparelhos celulares, bem como pincelar
os impactos que a ignorância no âmbito tecnológico pode acarretar entre membros
de idades diferentes em uma mesma família. Dito isso, Katie e Rick, pai e filha
respectivamente, são os sustentáculos desse arco que ensejam, por conseguinte,
uma relação que transmite muita genuinidade e ternura ao mesmo tempo. Aliás, a
dinâmica entre todos os integrantes do núcleo Mitchell é contagiante e hilária.
Desse modo, pode-se
dizer que as excentricidades dos personagens se complementam em tela, visto que
as piadas surgem da natureza disfuncional daquela família e dos aspectos
heteróclitos de cada constituinte. Vale mencionar que a paixão que Katie sente
pela sétima-arte permite que o entrecho use easter-eggs e referências
visuais a clássicos do cinema sem se tornar pedante. Ademais, a trilha é
entusiástica e corrobora os eventos assistidos, ao passo que o humor, além do
que já foi mencionado, pode ser obtido do contraste entre as expectativas dos
espectadores e o que realmente acontece; os personagens falam alguma coisa, o
assistente se prepara para o que irá ocorrer e a sequência seguinte desconstrói
de maneira cômica o que estava sendo aguardado.
Por fim, alguns
tópicos negativos têm que ser expostos. Os vizinhos que fazem o contraponto das
imperfeições dos protagonistas são descartáveis, pois não acrescentam nada ao
plot central e não são engraçados; o público ri da forma que os Mitchell reagem
a eles e não dos indivíduos em si, porém, considerando que a urdidura é assaz
eficiente em sua vertente jocosa, esses blocos poderiam ser removidos sem causar
qualquer distúrbio. Por sua vez, o roteiro também peca na concepção de sua
antagonista, tendo em vista que as tentativas de gerar gargalhadas por
intermédio desta são falhas. Isso é fruto, principalmente, da utilização de um
humor estapafúrdio que opera eficazmente em função das exoticidades previamente
estabelecidas da família Mitchell, mas não funciona com uma personagem que o
assistente não está habituado e não possui o mesmo tipo de vínculo.
Em linhas gerais, A
Família Mitchell e a Revolta das Máquinas é uma produção hilária que se
aproveita da estúrdia de sua estética para divertir o público.
Matheus J. S.
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Ficha
Técnica:
Data de
lançamento (Netflix): 30 de abril de 2021
Direção: Michael
Rianda, Jeff Rowe
Elenco: Abbi
Jacobson, Danny McBride, Maya Rudolph…
Gênero:
Animação
Nacionalidade:
EUA
Sinopse (Netflix):
Uma revolta de robôs interrompe a viagem da família. Agora o destino da
raça humana está nas mãos dos Mitchells — a família mais estranha do mundo.
Avaliação:
IMDb: 7,7
Rotten: 97%
Metacritic: 80%
Filmow (média geral): 4,0
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 4,0/4,0
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 8,5
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