Assim como no recém-comentado Os Inocentes, crianças são um símbolo de
pureza que o cinema adora desconstruir e explorar o lado nefasto. Posto isto,
Playground, produção belga da estreante Laura Wandel, se junta à obra francesa
para o debate.
De início, pode-se inferir que o filme tem como foco a personagem Nora.
Nesse sentido, o longa abre com um plano longo que tem como objetivo
estabelecer um sentimento de intimidade do público com a protagonista e expor o
quão angustiante a situação pela qual ela está passando é. Dito isso, a câmera
irá acompanhá-la integralmente ao correr da película, além da direção utilizar
recursos para fazer com que o espectador se sinta ainda mais próximo de Nora. Logo,
os rostos secundários são geralmente apresentados à distância, desfocados
ou acima da perspectiva da personagem pela qual o assistente vê o filme, sendo
possível apenas escutar suas vozes, ou seja, é uma ferramenta que tem como intuito
mostrar como aquelas pessoas são estranhas para a menina.
Outrossim, Playground é sobre a vida em um novo mundo, nesse caso a vida
que começa no ambiente escolar e o quão hostil essa jornada pode ser. Desse
modo, o longa consegue evocar uma pungente sensação de impotência ao escrutinar
situações na qual as crianças mais novas são importunadas pelas mais velhas. Há, nesse contexto, um temor por parte do
público pela protagonista que é fruto da abordagem crua empregada pela diretora,
tanto por meio da fotografia pontuada por cores frias quanto pela ausência de
trilha sonora, e a ocorrência de eventos que reiteram o fato de que ninguém
está resguardado pelo roteiro. A falta de atitude dos adultos é outro elemento revoltante
que acentua o desamparo das inofensivas criaturas, sendo esta vertente responsável
por ensejar debates acerca da relação entre pais e filhos e a ineficácia do
sistema educacional no combate ao bullying.
No que concerne aos semblantes adjacentes, Abel atua com tanta relevância
quanto Nora. Além deste ser o catalisador de alguns dos principais conflitos do
enredo, o personagem, mesmo visto sob o ponto de vista da irmã, possibilita que
a película destrinche temas relacionados a forma que a violência replica atos
ainda mais irascíveis. Por sua vez, o pai dos irmãos propicia questionamentos
referentes à sua profissão que jamais são respondidos pelo entrecho, ao passo
que o encerramento da produção é demasiado abrupto. Vale ressaltar, ademais, que a
performance do elenco mirim é extraordinária. Destarte, Maya Vanderbeque transita
com primazia pelas distintas nuances de sua persona, tais como inocência,
raiva, sofrimento e empatia, muitas vezes manifestando emoções contrastantes em
uma mesma cena. A respeito de Günter Duret, o ator tem uma interpretação
marcada por sentimentos reprimidos, embora ele tenha momentos de ternura com a
irmã.
Por fim, Playground erra pouco e se consolida, ao lado de Os Inocentes,
como uma das obras mais ácidas a retratar as mazelas da infância.
Matheus J. S.
Assista e
Kontamine-se
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Ficha
Técnica:
Data de lançamento (Bélgica): 20 de outubro de
2021
Direção: Laura Wandel
Elenco: Maya Vanderbeque, Günter Duret, Karim
Leklou…
Gênero: Drama
Nacionalidade: Bélgica
Sinopse
(Filmow):
Quando Nora testemunha
Abel sendo intimidado por outras crianças, ela corre para protegê-lo. Mas Abel
a força a permanecer em silêncio. Presa em um conflito de lealdade, Nora tenta
encontrar seu lugar, dividida entre os mundos adulto e infantil.
Avaliação:
IMDb: 7,3
Rotten: 100%
Filmow (média geral):
3,6
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
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