Recém-chegado ao Prime Video, Bar Doce Lar adapta o livro sobre as memórias
do autor J. R. Moehringer. Estrelado por Ben Aflleck e Tye Kayle Sheridan, o
filme propicia uma experiência gostosa de ser assistida.
Introdutoriamente, o primeiro terço do longa é o que concentra os seus
maiores acertos. Dito isso, é ao correr dos blocos iniciais que o enredo
institui os membros da família de JR e a instabilidade que rege a vida com a
sua mãe. A ferramenta utilizada para agilizar a intimidade entre os
interlocutores é uma narração em voice over que, além de contextualizar
o público, faz comentários adicionais e expressa emoções tolhidas ao longo dos
recortes temporais exercidos pelo roteiro. Desse modo, o espectador conhece um
pouco mais sobre cada parente do protagonista e a forma que ele se relaciona
com cada um deles. Dentre os destaques, pode-se citar o avô, que funciona como
alívio cômico, e a avó que, diferentemente dos demais entes queridos,
não possui um momento de destaque.
Sobretudo, é com o tio que se arquiteta o principal relacionamento da
película. Charlie representa para o sobrinho uma figura paterna que nunca
esteve presente, sendo o mentor para JR se desenvolver como homem e cidadão; é um
vínculo de bastante afeto e carinho que consegue transmitir o quão importante o
tio foi na vida do escritor. Vale ressaltar que a atuação de Ben Affleck é fundamental
para apregoar o carisma da persona interpretada que é, acima de tudo, sua
exponencial característica; é uma performance de muita segurança e irreverência.
Por sua vez, é a partir do arco de Charlie que o filme apresenta personagens
terciários extremamente cativantes, ou seja, o pouco realce que o núcleo dos
associados do bar tem e a dinâmica leve que sustenta a interação entre eles faz
os assistentes desejarem ver mais a respeito.
Um dos gritantes problemas do longa é a montagem. As transições
temporais que a urdidura executa são ininteligíveis quanto ao tempo que passou,
e as inclusões de cenas no presente são desinteressantes, dispersas e quebram o
ritmo do entrecho até a película se estabelecer no período atual da narrativa.
Nesse sentido, quando o filme está solidificando os laços e as figuras que os
compõem, há uma enorme passagem de anos que urge uma retomada do que havia sido
imposto. Desse ponto em diante, há a introdução de novos semblantes que, apesar
de clichês, não incomodam devido ao envolvimento previamente instituído do
assistente com a estória, porém se tornam um óbice quando o script passa
a descartá-los e reutilizá-los ao léu, gerando um vai e vem de coadjuvantes sem
qualquer constância.
Ademais, há alguns outros fatores que influenciam a queda de rendimento
da segunda metade da produção. A menor participação de Ben Affleck é um deles,
visto que Charlie é o personagem com maior viço na trama. Dessa maneira, a
troca de intérpretes do JR impacta o elo com o tio, considerando que o ator
mirim possui muito mais espaço para desenvolver a química com o seu tutor. Além,
vale frisar que o plot da namorada acaba por ser repetitivo e
inoperante, ao passo que o longa começa a picotar os seus eventos em uma ânsia
de abranger o máximo de situações possíveis para contar ao público.
Por fim, a direção de George Clooney, para o bem ou para o mal, também
merece nota. Sem se permitir que o charme da película se restrinja apenas ao
roteiro, o cineasta imprime o otimismo do texto nas escolhas criativas, como
denota a fotografia marcada por tons amarelos, e a trilha pontuada por gradações
lúdicas. Todavia, Clooney faz uso de alguns recursos que, ainda que atestem a mão
do diretor por de trás de sua concepção, nem sempre são relevantes. Isso pode
ser exemplificado por meio de um plano-sequência em um carro nos minutos
incipientes, durante o qual pai e filho conversam brevemente, mas o artifício
utilizado pouco agrega ao escopo da obra. Em outros segmentos há a recorrência de abruptos close-ups
que destacam a reação de alguma pessoa frente a uma determinada circunstância; é
funcional, contudo, não apresenta suficiente personalidade para representar
algo maior.
No mais, Bar Doce Lar sofre com as inserções avulsas de rostos secundários,
tem uma edição problemática e uma metade menos entusiástica do que a outra. Entretanto,
o carisma de seus personagens e o teor auspicioso da estória narrada são
capazes de deixar o espectador com um leve sorriso após a sessão.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Prime Video): 07 de janeiro de 2022
Direção: George Clooney
Elenco: Ben Affleck, Tye Sheridan, Daniel Ranieri...
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Filmow):
Bar Doce Lar segue um aspirante a escritor na busca de seus sonhos
profissionais e românticos.
Avaliação:
IMDb: 6,8
Rotten: 53%
Metacritic: 87%
Filmow (média geral): 3,5
Adoro Cinema
(usuários/adorocinema): 3,2/3,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 6
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