17 de janeiro de 2022

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Roda do Destino

Pôster

Produções que se dividem em várias estórias para formar um todo coeso se proliferam aos montes na indústria cinematográfica. Desde o premiado Relatos Selvagens, passando pelo polêmico Subconcious Cruelty até o recente A Crônica Francesa, esse tipo de narrativa requer cuidados especiais no que tange à sintonia dos tons que respaldam os diferentes contos explorados. Nesse sentido, agora é a vez de Ryusuke Hamaguchi fazer o seu compilado para a apreciação do público.
Em face do exposto, o diretor apresenta um filme que consegue nivelar os três episódios contados. Desse modo, nenhum destes se sobressai qualitativamente sobre os outros, ou seja, existe uma parcimônia narrativa que possibilita que os temas pautados se complementem. Dito isso, há um grande apreço pelo trivial que rege os três blocos do entrecho, estes que se apropriam de situações mundanas para escrutinar as camadas de seus subtextos. Seja por meio do despretensioso cumprimento à uma senhora na rua até um breve comentário sobre um brinquedo infantil, o longa estabelece um fragmento da rotina de seus personagens para semear com naturalidade a emersão de seu tópico central.
Destarte, Roda do Destino é uma fábula erótica. Entretanto, apesar do que a definição anterior possa suscitar, a película se apropria de um erotismo sugestivo que brinca com a imaginação do espectador em vez de mostrar qualquer vestígio de nudez. Para tal, Hamaguchi gosta de fixar a câmera e deixar os atores papeando durante sequências que se alongam enquanto evoca sensações apenas com o caminhar das conversas. Esse caráter é principalmente apregoado na segunda estória, enquanto as outras duas de entrelaçam à esta para desvendar o que se esconde por de trás de falas lúbricas. Em outras palavras, o longa é, sobretudo, um estudo sobre uma sociedade japonesa permeada pela solidão.
Em função disso, é possível traçar paralelo com o outro trabalho audiovisual do cineasta em 2021: Drive My Car. Ainda que sob uma abordagem muito mais densa, a película citada também tem como debate primordial o enclausuramento psicológico de seus personagens. Posto isto, Roda do Destino apresenta os mesmos debates sob uma ótica revisionista, utilizando cores vívidas, atuações espontâneas e uma trilha pontuada por suaves toques de piano para contrastar com a infelicidade intrínseca às figuras em tela. Vale ressaltar que, embora os protagonistas mudem de um conto para o outro, o roteiro consegue atribuir-lhes suficiente miolo ao correr dos minutos reduzidos que estes se encontram em cena. Isso é feito por meio de robustos diálogos que propiciam um aprofundamento nas relações dos indivíduos contracenando, ao passo que o assistente se familiariza com eles e pode desenvernizar suas personalidades.
Por último, o diretor recorre à alguns recursos que são funcionais, enquanto outros não. (SPOILERS A SEGUIR) Isto é, ao fim do primeiro bloco há uma circunstância caótica que é revertida com um abrupto close-up e a revelação de que a situação estava sendo imaginada pela personagem destacada. Apesar de clichê, o segmento funciona devido à unicidade de sua ocorrência e a surpresa gerada. (FIM DOS SPOILERS) Ademais, há saltos temporais executados nos dois primeiros episódios que são operantes e necessários para a produção desenvolver as consequências a longo prazo dos eventos assistidos, especialmente por conta do curto espaço de tempo que cada conto tem à sua disposição. Por outro lado, ainda que as concepções dialógicas sejam um dos pontos fortes do filme, Hamaguchi é um tanto quanto autocondescendente ao usá-las para dar informações ao público sobre acontecimentos sucedidos ao correr dos recortes temporais, entretanto, sem lapidá-las antes.
Em linhas gerais, Roda do Destino é uma obra sensível que equilibra suas diferentes narrativas e personagens para atestar mais uma vez o talento de Ryusuke Hamaguchi ao destrinchar as facetas da solidão.
Matheus J. S.
 
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 06 de janeiro de 2022
Direção: Ryusuke Hamaguchi
Elenco: Kiyohiko Shibukawa, Hyunri, Fusako Urabe...
Gênero: Drama
Nacionalidade: Japão

Sinopse (Filmow):
Um inesperado triângulo amoroso, uma armadilha de sedução fracassada e um encontro que resulta de um mal-entendido são os três episódios, contados em três movimentos para retratar três personagens femininas e traçar a trajetória entre suas escolhas e arrependimentos.

Avaliação:
IMDb: 7,6
Rotten: 98%
Metacritic: 87%
Filmow (média geral): 4,0
Adoro Cinema (usuários): 3,1
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
Avaliação


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